sábado, 26 de março de 2022

 

 


 

 

Eu tinha minhas mãos cheinhas de tesouros

a mim tão preciosos:

trabalhos de ouro e prata e pedras de valor.

Era o que eu possuía e eu lhe votava amor.

O Mestre veio a mim e pôs nas minhas mãos

as Suas mãos varadas

e o meu precioso haver das minhas mãos caiu:

joias despedaçadas

rolaram pelo chão e meiga voz se ouviu:

“Espalma as tuas mãos; sou Eu quem deve enchê-las.

Vazias quero-as te, para servir-me delas!”

Eu tinha em minhas mãos as marcas do trabalho

e as manchas do pecado.

Por isso o meu trabalho alvura não mostrava

e, porque era manchado, o seu valor baixava.

O Mestre veio a mim e pôs nas minhas mãos

as Suas mãos sangrentas

e o sangue das Suas mãos as minhas mãos lavou.

E, puras, alvacentas,

eu, com prazer, as vi; e o Mestre me falou:

“Limpa as tuas mãos manchadas do pecado

e vem depois: serás no meu serviço usado!”

Eu tinha minhas mãos trementes e cansadas,

jamais em prece unidas,

mas ocupadas sempre em mil trabalhos vis…

Numa pressão constante, exaustas e febris!…

O Mestre veio a mim e pôs nas minhas mãos

as Suas mãos serenas

e logo em prece ardente as minhas mãos uni.

Ocupações terrenas

perderam a atração e mansa voz ouvi:

“Conserva as tuas mãos serenamente em prece,

até que a agitação da tua vida cesse!”

Eu cria em minhas mãos haver força e firmeza

sem o poder divino:

entregue ao meu trabalho, ardente e ideal,

eu não obedecia à voz celestial.

O Mestre veio a mim e pôs em minhas mãos

as Suas mãos pesadas

e desde aquele instante a força me fugiu,

a menos que ligadas

tenhamos nossas mãos. e o Mestre concluiu:

“Só na fraqueza humana opera o meu poder:

se queres vê-lo em ti, resolve obedecer!…

 

 

“Limpa as tuas mãos manchadas do pecado

e vem depois: serás no meu serviço usado!”

Eu tinha minhas mãos trementes e cansadas,

jamais em prece unidas,

mas ocupadas sempre em mil trabalhos vis…

Numa pressão constante, exaustas e febris!…

O Mestre veio a mim e pôs nas minhas mãos

as Suas mãos serenas

e logo em prece ardente as minhas mãos uni.

Ocupações terrenas

perderam a atração e mansa voz ouvi:

“Conserva as tuas mãos serenamente em prece,

até que a agitação da tua vida cesse!”

Eu cria em minhas mãos haver força e firmeza

sem o poder divino:

entregue ao meu trabalho, ardente e ideal,

eu não obedecia à voz celestial.

O Mestre veio a mim e pôs em minhas mãos

as Suas mãos pesadas

e desde aquele instante a força me fugiu,

a menos que ligadas

 

 

 Fanny Crosby

 

 

 

Fanny Crosby - nome imortalizado como génio criativo para quem o Céu foi o seu único limite

Frances Jane Crosby, também conhecida como Fanny Crosby Nasceu a 24 de Março de 1820 – Morreu a 12 de Fevereiro de 1915) foi compositora lírica conhecida por se tornar a mais prolífica autora de hinos sacros conhecida, a despeito de ter sido cega desde criança.

 

Com notável facilidade em compor, algumas canções surgiam em poucos minutos. Utilizou mais de 200 pseudônimos para escrever mais de oito mil hinos, o que faz dela um dos maiores nomes entre os compositores cristãos. Seu primeiro hino foi composto aos 45 anos de idade. Muitas de suas canções encontram-se publicadas em diversos idiomas por todo o mundo.

 

Pouco depois disso veio a falecer seu pai. Quando tinha apenas seis semanas de vida ficou cega por causa de um erro médico. Esta deficiência acompanhou-a o resto da sua vida, mesmo assim, Fanny não se deixava abalar pelo problema. A sua convicção cristã não lhe permitia a melancolia. Esta certeza está nas letras dos seus hinos. Ela também já desde a sua infância dizia que tinha um pedido para o seu Criador. Ao entrar no céu, o primeiro rosto que ela gostaria de ver, era o do seu Salvador.

A perspectiva mais acertada para uma pessoa assim, seria o fracasso. Mas não para aquela menina, que se tornaria a mulher mais famosa da hinódia norte-americana. Chegou a ser muito conhecida por cinco presidentes dos Estados Unidos. Aos oito anos demonstrava seu futuro brilhante, quando já escrevia poemas. Aos quinze anos ingressou numa escola para cegos em Nova York, onde voltou depois para lecionar e passou o resto da sua vida. Nesta escola encontrou Alexandre Van Alstyne um músico, com quem se casou aos 38 anos, que também era cego.

Fanny tinha pouco mais de um mês de vida quando sofreu uma infecção nos olhos. O clínico geral estava fora da cidade e um outro médico fora chamado para tratar do caso. Receitou cataplasmas de mostarda quente e o efeito foi desastroso: a menina ficaria cega pelo resto da vida. O "médico" teve de fugir da cidade, tamanha a revolta suscitada entre os parentes e vizinhos da bebê.

Aos cinco anos, foi levada pela mãe para consultar o melhor especialista no país, o Dr. Valentine Mott. Uma coleta feita entre os vizinhos pagou a viagem. O pai de Fanny já tinha morrido e a situação financeira da família era muito difícil. O sacrifício, infelizmente, foi em vão, já que o médico decretou o caso como incurável. A menina teve então de acostumar-se às dificuldades, ao mesmo tempo em que demonstrava uma habilidade incomum para compor poesias.

 

Fanny foi evangelizada pela sua avó, que passava horas a ler a Bíblia para a ela, que demonstrava ter uma memória extraordinária: decorou diversos trechos do Livro de Rute e dos Salmos. Aos 15 anos, entrou para o Instituto de Cegos de Nova Iorque, para onde voltaria anos depois para ensinar Inglês e História. Como aluna e professora, Fanny passou 35 anos na mesma escola.

Em 1844, escreveu seu primeiro livro de poemas - "A Menina Cega e Outros Poemas".

 

Fonte:   https://pt.wikipedia.org/wiki/Fanny_Crosby

sexta-feira, 22 de outubro de 2021

 

 


 

 

Espero

 

Espero sempre por ti o dia inteiro,

Quando na praia sobe, de cinza e oiro,

O nevoeiro 

E há em todas as coisas o agoiro

De uma fantástica vinda. 

 

 

 Sophia de Mello Breyner Andresen

terça-feira, 5 de outubro de 2021

 

 


 

Perfil de escrava 

 

 

 Quando os olhos entreabro à luz que avança, 

Batendo a sombra e pérfida indolência, 

Vejo além da discreta transparência 

Do alvo cortinando uma criança. 

Pupila de gazela - viva e mansa, 

Com sereno temor colhendo a ardência 

Fronte imersa em palor..

Rir de inocência, 

Rir que trai ora angústia, ora esperança... 

Eis o esboço fugaz da estátua viva, 

Que - de braços em cruz - na sombra avulta 

Silenciosa, atenta, pensativa! Estátua? 

Não, que essa cadeia estulta 

Há de quebrar-se, mísera, cativa, 

Este afeto de mãe, que a dona oculta! 

 

 

Narcisa Amália, em "Nebulosas". 1872. 

 

Narcisa Amália de Campos - poeta, republicana, abolicionista e feminista do século XIX 

A poeta esquecida do século XIX

domingo, 3 de outubro de 2021

 

 


 

Trouxe-te um ramo de frésias já que não te podia trazer um rio...

 

 Jorge Sousa Braga

domingo, 22 de agosto de 2021

 
 
 

Meditação do Duque de Gândia sobre a morte de Isabel de Portugal

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Nunca Mais

 

 

A tua face será pura limpa e viva,

Nem teu andar como onda fugitiva

Se poderá nos passos do tempo tecer.

E nunca mais darei ao tempo a minha vida.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

A luz da tarde mostra-me os destroços

Do teu ser. Em breve a podridão

Beberá os teus olhos e os teus ossos

Tomando a tua mão na sua mão.

Nunca mais amarei quem não possa viver

Sempre,

Porque eu amei como se fossem eternos

A glória, a luz e o brilho do teu ser,

Amei-te em verdade e transparência

E nem sequer me resta a tua ausência,

És um rosto de nojo e negação

E eu fecho os olhos para não te ver.

Nunca mais servirei senhor que possa morrer.

Nunca mais te darei o tempo puro

Que em dias demorados eu teci

Pois o tempo já não regressa a ti

E assim eu não regresso e não procuro

O deus que sem esperança te pedi.

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Sophia de Mello Breyner Andresen

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https://www.youtube.com/watch?v=7IKICVSMRys&t=24 



O mistério do falso poema de Sophia que se tornou viral está desvendado. Foi escrito em 2009 pela juíza Adelina Barradas de Oliveira

 

Fonte:

  https://www.publico.pt/2019/02/15/culturaipsilon/noticia/poema-juiza-escreveu-sophia-celebrizou-1862062




 

quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Vem comigo

 

 


 

 

Vem comigo ver as pirâmides fantásticas do vento

No interior luminoso da terra encontrarás 

O segredo de quartzo para desvendares o tempo 

Onde contemplamos a fulva doçura das cerejas 

Iremos para onde os restos de vida não acordem 

A dor da imensa árvore a sombra 

Dos cabelos carregados de pólenes e de astros 

Crescemos lado a lado com o dragão 

O súbito relâmpago dos frutos amadurecendo 

Iluminará por um instante as águas do jardim 

E o alecrim perfumará os noctívagos passos 

Há muito prisioneiros no barro 

Onde o rosto se transforma e morre 

E já não nos pertence 

Vem comigo 

Praticar essa arte imemorial de quem espera 

Não se sabe o quê junto à janela 

Encolho-me 

Como se fechasse uma gaveta para sempre 

Caminhasse onde caiu um lenço 

Mas levanto os olhos 

Quando o verão entra pelo quarto e devassa 

Esta humilde existência de papel 

Vem comigo 

As palavras nada podem revelar 

Esqueci-as quase todas onde vislumbro um fogo 

Pegando fogo ao corpo mais próximo do meu 

 

Al Berto 

 

(in O Medo, Assírio & Alvim)