Vem comigo ver as pirâmides fantásticas do vento
No interior luminoso da terra encontrarás
O segredo de quartzo para desvendares o tempo
Onde contemplamos a fulva doçura das cerejas
Iremos para onde os restos de vida não acordem
A dor da imensa árvore a sombra
Dos cabelos carregados de pólenes e de astros
Crescemos lado a lado com o dragão
O súbito relâmpago dos frutos amadurecendo
Iluminará por um instante as águas do jardim
E o alecrim perfumará os noctívagos passos
Há muito prisioneiros no barro
Onde o rosto se transforma e morre
E já não nos pertence
Vem comigo
Praticar essa arte imemorial de quem espera
Não se sabe o quê junto à janela
Encolho-me
Como se fechasse uma gaveta para sempre
Caminhasse onde caiu um lenço
Mas levanto os olhos
Quando o verão entra pelo quarto e devassa
Esta humilde existência de papel
Vem comigo
As palavras nada podem revelar
Esqueci-as quase todas onde vislumbro um fogo
Pegando fogo ao corpo mais próximo do meu
Al Berto
(in O Medo, Assírio & Alvim)
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