sábado, 8 de abril de 2023

 

 

 

 




 

 

Roga, ao Senhor a benção da Luz Divina

Para o teu coração e para a tua inteligência,

A fim de que te não percas no labirinto dos problemas;

Contudo, não te esqueças de que, na maioria das ocasiões,

O socorro inicial do Céu nos vem pelo caminho comum,

Através de angústias e desenganos.

Aguarda, porém, confiante, a passagem dos dias.

O tempo é o nosso explicador silencioso

E revelar-te-à ao coração a bondade infinita do Pai

Que nos restaura a saúde da alma,

Por intermédio do espinho da desilusão

Ou do penoso elixir do sofrimento.

 

Emanuele d'Astorga

sexta-feira, 7 de abril de 2023

 


 

 

 

Calvário

 

O Cristo que dorme, na gaveta do altar, de espinhos vermelhos na cabeça e feridas roxas nas mãos, tem os olhos fechados. Desceu-lhe as pálpebras a mão de Madalena, a loura prostituta que ele roubou aos homens; limpou-lhe o sangue o lenço de Verónica, a bela

compadecida que guardou o linho onde o seu rosto permanece; cruzou-lhe as mãos a Mãe, ouvindo na ira dos ventos a voz divina. Que durma em paz, esse Cristo roubado à cruz, na gaveta do Altar aonde não chegam já as vozes do homem. Adormecido, que nem um grito de dor o desperte; nem um gemido suplicante o distraia do seu sono; nem a fúria das gerações lhe reabra as feridas. Um a um, têm caído os espinhos; pouco a pouco, o sangue confunde-se com a cor da pele; e no seu rosto uma antiga palidez recupera a vida. Até que alguém reabra a gaveta, na véspera de Páscoa, e o traga de volta a este

mundo: cravando mais fundo ainda

nas mãos e no pés, os pregos, no peito, o bico da lança, e na cabeça, os espinhos.

 

Nuno Júdice

 

 

Charcoal (art)

Desconheço o Autor da pintura

quarta-feira, 5 de abril de 2023

 

 


 



 

 

O músico de Auschwitz

 

Em Jerusalém

Encontrei um homem

Que tocava violino em Auschwitz.

Tocava numa orquestra

Acompanhando os que iam morrer

No fogo crematório.

Hojé é engenheiro,

Ilumina cidades do mundo inteiro,

Inclusive os muros da Cidade Santa.

Não lhe perguntei que música tocava.

No seu braço o número - 121097, de prisioneiro.

Não lhe perguntei que música tocava.

Perguntei-lhe se ainda tocava.

 

Sim, ele tocava.

 

Affonso Romano de Sant'Anna