sábado, 18 de março de 2017





LEIO-TE


Leio-te como um livro!
De folhas suaves
Escrita fina
Tinta perfumada.
Assim tu és
Agarrada aos meus dedos
Sem a canseira
Que nasce da pressa
De mais encanto ler.
E ao revelar-te
Invento um tempo
Sem volume
Nem edição.
Viro uma página
Outra me prende
E na última
Recomeço de novo.



( António Silva Melo, In Esboços, 2014)



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sexta-feira, 17 de março de 2017




Foi para ti que criei as rosas.
Foi para ti que lhes dei perfume.
Para ti rasguei ribeiros
e dei às romãs a cor do lume.

Foi para ti que pus no céu a lua
e o verde mais verde nos pinhais.
Foi para ti que deitei no chão
Um corpo aberto como os animais


Eugénio de Andrade


Fomte: Pensador
Foto: Pesquisa Google

quinta-feira, 16 de março de 2017





MARGEM


Há nas margens de mim, um rio calmo.
Reclinam-se nessas margens os que amo.
Deus meu!
Porque é que corro num cansaço.
Procurando esse lugar sonhado.
De nadas me alindo.
De tudos me dispo.
Preciso, não tenho.
Ao dar me refaço.
Procuro, desvendo.
Segredos, sementes.
Ajudei a florir, almas tão descrentes.
Bebo cantares de água.
Ergo taças plenas.
De orvalho, carinhos.
Há orquestras escondidas.
Melodias nos ninhos.
Tudo isto para mim.
É poesia, é melancolia nas margens de mim.
Sou a margem.
O rio, sou as sedas de água.
Sou a que sorri,
Ou a que chora a rir,
Em murmúrios de água.


Augusta Mar.



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quarta-feira, 15 de março de 2017




" Mulher"

Anjo de asas soltas
gota de aconchego,
ventre e regaço,
fusão de sonhos,
e porto de abrigo,
alvéolo de vida
de sentimentos inteiros
em tamanho de céu e mar
sem medida…
Pétala de primavera
de todas as estações
em desfolhada de Amor.
Rainha das cores
que tingem o arco íris
e que no corpo
tem a repousar nos seios
parir
pascer
gerar
criar
florir
em Amor.
[ © António Carlos Santos ]


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" mulher"
Poema de: © António Carlos Santos

iN:Poesia "Versos de Mel & Fel" (Editora Versbrava)




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Se a poesia da vida for verdade
então
a verdade existirá na poesia da imagem.
Leio-a, na ternura do olhar
e nos gestos das tuas mãos.
a mensagem:
de quem sabe amar por defeito,
com efeito:
desenho-te a silhueta dos dias, das noites...
e - ao fazer amor na madrugada
com a tua imagem renovada -,
descubro que o amor é novo
não envelhece,
nem se perde nos sulcos da pele;
antes, a poesia é mais viva
na imagem,
desse sentimento sem idade.


Pj.Conde-Paulino

in Castelo de Palavras e Sentimentos 
– 03/09/2015 – 



Fonte: https://www.facebook.com/pjpaulino
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terça-feira, 14 de março de 2017




Deixa-me ainda, amor

Deixa-me ainda, amor, debruçar-me em teu rosto,
para ver se te acordo ao menos um instante;
e, ao cingir num abraço o teu corpo já morto,
ver se voltas a ser o meu jovem amante…

Dá-me só mais um beijo, o último de todos
- mas que seja igualmente o beijo mais perfeito!-
para que a tua alma, exilada do corpo,
eu a possa guardar no fundo do meu peito…

Hei-de beber-te assim a vida que te resta,
julgar que inda conservo o que afinal perdi,
enquanto noutro reino, entre sombras funestas,
um implacável deus me separa de ti.

Agora não duvido: esse deus é mais forte,
Pois tudo quanto é belo acaba á sua sombra.
Porque sou imortal? Porque não vem a morte
arrastar-me também para onde te encontras?


Bíon
(Grécia Séc. III a. c.)

Extraido do livro “ Os dias do Amor”




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segunda-feira, 13 de março de 2017



PAPOILAS VIVAS PÉTALAS NO REGAÇO


Vem amor,
Conduz meu ser pelos caminhos largos do teu peito.
Embala-me na musica que para mim compões.
Há silencio.
Apenas sinto no entrelaçar das nossas mãos a citara do amor.
A noite passa levemente num sussurro.
Caminhámos por entre as árvores.
É sedoso o chão da nossa trilha.
Sinto perfumes.
Os nardos florescem para nós.
Já os ramos nus da romãzeira.
Abrolham, sonhamos ambos as flores garridas de papel crepe,
Arigamis perfeitos tecidos de vento e lua.
Ah! Amor, reclinemo-nos aqui.
Um rio canta lá longe.
Pergunto.
É o paraíso ?
Enebria-me o perfume de maças.
Ris!
Me beijas o ventre, onde desabrocham papoilas.
Mas eu, peço.
Colhe primeiro as margaridas de meu seio.
Tu dizes!
Tu és maça, doce maça e tão mulher.
E os beijos florescem.


Augusta Mar.

13/3/2017=


Fotos:https://pt.pinterest.com/cinafraga/

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domingo, 12 de março de 2017





História inacabada


A minha história ainda não foi escrita
Continua intermitente e distorcida
Estão abertas as portas da desdita
Sobre o vão da fronteira adormecida
Enleado não encontro lugar certo
Nas fases que o tempo não fecha
Abro os braços imaginando-te perto
Tenebrosa é a força que não deixa
Na indizível arquitectura de fachada
Sobressaem frases doces desenhadas
Beijos perdidos de história inacabada
Indulgências de almas desencontradas
Segue a narrativa pela lentidão das horas
Perfumes derramados em pálpebras soltas
Fulgores contidos na apanha das amoras
Caprichosos rendilhados sempre às voltas
Nesta dança clara dos dias adversos
Entre o silêncio e o sol dos olhares
Vale-me o amor que sinto pelos versos
E a visão das dunas dos teus mares


© Orlando Alves
Todos os Direitos Reservados

Viana do Castelo, 22 de Fevereiro de 2017



Fonte: https://www.facebook.com/orlando.alves
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