sábado, 28 de dezembro de 2019







Pouco acima daquela alvíssima coluna
Que é o seu pescoço, a boca é-lhe uma taça tal
Que, vendo-a, ou, vendo-a, sem, na realidade, a ver,
De espaço a espaço, o céu da boca se me enfuna
De beijos — uns, sutis, em diáfano cristal
Lapidados na oficina do meu Ser;
Outros — hóstias ideais dos meus anseios,
E todos cheios, todos cheios
Do meu infinito amor . . .
Taça que encerra
Por suma graça
Tudo que a terra de bom produz!
Boca!
O dom possuis de pores louca a minha boca
Taça de astros e flores, na qual esvoaça meu ideal!
Taça cuja embriaguez
Na via-láctea do Sonho ao céu conduz!
Que me enlouqueças mais... e, a mais e mais, me dês
O teu delírio... a tua chama... a tua luz...




Hermes Fontes, compositor e poeta brasileiro (1888-1930).

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019





Me callo, grito. 
No hay un momento para gritar o para callar. 
Tú eres mi único grito. 
Tú eres mi único silencio.





Mahmud Darwish

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019






Este é o inverno



Um frio de leve vem para ficar.
A brisa suave faz a árvore balançar.
O vento sopra assobiando.
O céu escuro vai ficando.
As nuvens passam de mansinho.
A chuva chega devagarinho.
As pessoas correm abrindo guarda-chuvas.
Vi um homem de casaco
E uma mulher de luvas.
É esse o inverno sorrateiro.
Vem chegando e nem avisa primeiro.



Clarice Pacheco


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