sábado, 28 de dezembro de 2019







Pouco acima daquela alvíssima coluna
Que é o seu pescoço, a boca é-lhe uma taça tal
Que, vendo-a, ou, vendo-a, sem, na realidade, a ver,
De espaço a espaço, o céu da boca se me enfuna
De beijos — uns, sutis, em diáfano cristal
Lapidados na oficina do meu Ser;
Outros — hóstias ideais dos meus anseios,
E todos cheios, todos cheios
Do meu infinito amor . . .
Taça que encerra
Por suma graça
Tudo que a terra de bom produz!
Boca!
O dom possuis de pores louca a minha boca
Taça de astros e flores, na qual esvoaça meu ideal!
Taça cuja embriaguez
Na via-láctea do Sonho ao céu conduz!
Que me enlouqueças mais... e, a mais e mais, me dês
O teu delírio... a tua chama... a tua luz...




Hermes Fontes, compositor e poeta brasileiro (1888-1930).

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