sábado, 30 de abril de 2022

 

 



Poema sobre a Guerra

Onde se esconde paz


Slava Ukraini    💙  🇺🇦  💛

 

 

Convoca as bordadeiras, os tecelões e os ourives

e diz-lhes que não haverá mais bodas

até que volte a pronunciar-se de novo a palavra paz

nos mercados, nas veredas, nas alcovas, nos portais.

Ainda ontem uma mãe sepultou dois filhos

no lugar onde antes era luminosa a flor do riso,

a corola branca dos amores sem mácula.

Depois todos se calaram e vieram as lágrimas,

as súplicas, as unhas cravadas na carne ferida.

E foi a raiva, e foi a dor sem nome, a miséria da alma.

É assim a guerra, disseram. E mais não souberam dizer.

E foram os pais despedir-se dos filhos na neblina dos cais.

Quando se voltava era sempre com um pedaço de vida

a menos, com uma cratera aberta no lugar da voz,

com uma chaga viva no vazio do coração.

Depois vieram os cães e as aves soturnas e negras,

as larvas, os ossos crucificados nos ramos ardidos,

os nomes dos filhos, dos pais, dos irmãos

gravados na pedra exausta de tanta morte.

Sempre foi e será assim a guerra, sentenciavam.

Mas havia meninos que ganhavam asas sobre os escombros

e levitavam como palavras do princípio de tudo

sobre os campos das batalhas que nunca ninguém venceu.

E vieram com eles as borboletas, os duendes e os adivinhos

e desenharam na terra o rosto imaculado da paz

e na areia fina o mapa das viagens em direcção à luz.

E com eles regressaram as bordadeiras, os tecelões e os ourives,

e as casas voltaram a ter o odor dos frutos e da alfazema,

o rumor cantante das fontes e das núpcias.

E foi assim a paz, laboriosa como uma mãe altiva.

Ainda ontem uma mãe assim deu à luz dois filhos

com os nomes dos que outra mãe um dia ali sepultara.

E foi assim a paz, como um rio lavando o ventre da terra.

Agora podes adormecer tranquila, mãe, porque os canhões

encheram a boca de vento e morreram sufocados

como carrascos cegos pelo lume do remorso

e deixaram que deles se soltasse uma música antiga,

capaz de fazer das espadas dos heróis

as guitarras que adoçam a alma eterna e livre das manhãs.

 

 

José Jorge Letria (Janeiro de 2007)

 

 

terça-feira, 26 de abril de 2022

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

26 de abril de 1986 - Desastre em Chernobil 


Um lugar lindo, coberto de flores e campinas com lírios-aquáticos no riacho uma abundância de frutinhas e cogumelos...


A 26 de abril de 1986, o reator número quatro do complexo nuclear de Chernobil, na Ucrânia (URSS), explode. A nuvem radioativa afetou países vizinhos, provocou 31 mortes no primeiro dia, contaminou 10 mil quilômetros quadrados e atingiu com as radiações 600 mil pessoas.


Naquele dia a radiação foi lançada no ar, no solo, na água

mais que todos os testes nucleares realizados e todas as bombas detonadas

Uma nuvem de medo, ansiedade, incerteza pairou sobre a vida de milhões de pessoas

A nuvem embrenhou-se pelas plantações de pinheiros cobriu o bosque numa ação radioativa de cinzas

Toneladas de material radioativo lançados na atmosfera

Os liquidadores lacraram o reator transformando num sarcófago de aço e concreto

Perderam o seu lar deixaram tudo para trás roupas, dinheiro documentos, alimentos tudo que possuíam...

Um lugar lindo, coberto de flores e campinas com lírios-aquáticos no riacho uma abundância de frutinhas e cogumelos

Um acidente nuclear

Uma crise social e psicológica com proporções esmagadoras

Só então entenderam que nunca mais voltariam


Marcia Lailin


 

 

 

segunda-feira, 25 de abril de 2022

 

 


 

 

25 de Abril – O dia em que nasceu a Liberdade

 

 

A Cor da Liberdade

 

 

               Não hei-de morrer sem saber

               qual a cor da liberdade.

 

               Eu não posso senão ser

               desta terra em que nasci.

               Embora ao mundo pertença

               e sempre a verdade vença,

               qual será ser livre aqui,

               não hei-de morrer sem saber.

 

               Trocaram tudo em maldade,

               é quase um crime viver.

               Mas, embora encondam tudo

               e me queiram cego e mudo,

               não hei-de morrer sem saber

               qual a cor da liberdade.

 

Jorge de Sena   

(1919-1978)    

 

Viola Sado Artist

 

domingo, 24 de abril de 2022


 Leonard Cohen Street art

 


 

 

 

 


 

 

Esta é a manhã da consciência!

Voemos juntos! Desperta! Segue-me!

Há um lugar livre da dúvida e da tristeza,

Onde o terror da morte não impera.

 

Lá, florescem bosques em eterna primavera,

E sua fragrância faz avançarmos mais e mais.

Imerso nela, o coração, qual abelha, se inebria.

Imenso nela, já não quer outra alegria.

 

Kabir    

 

Bhagat Kabir Yi (San Kabir)

 

(Varanasi, ca. 1440 - Maghar, ca. 1518)

 

 

Kabir  foi um dos grandes poetas místicos ou santos-poetas da Índia medieval (Século XV), cujo escritos influenciaram o movimento bhakti do hinduísmo.