sábado, 25 de fevereiro de 2017





Espera

Grassa a fome nas comissuras dos lábios
e na língua fala a semente do vício.
No entanto, teimo em ir à boleia das vagas
enquanto o grito espreita num botão de camisa
desabotoado, em rota encapelada de arrepios,
na cicatriz nua dos olhos de uma fúria ausente
nas aspas de uma vida feita de raízes imóveis
a crescerem para dentro vermelhos naufragados.
E no poema cala-se a dor , a raiva, a luta
faz-se oco este lugar de silabas desperto
eternamente ansioso, febril e nunca saciado
na espera muda e vã do que lhe pertence.


© Margarida Piloto Garcia

(todos os direitos reservados ao abrigo do código do direito de autor)



Fotos:https://pt.pinterest.com/cinafraga/

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017




Perdoa-me


Que tristeza é esta que me rouba a vontade de sorrir,
e me faz sentir tão só no meio da multidão..
E eu sigo...vou mentindo a minha dor,
e sorrio para enganar o mundo.
Que tristeza estas horas que passam
tão lentamente...
Porque nunca mais chegas?
O sol fere-me os olhos,
fecho-os, e só oiço a tua voz,
as tuas gargalhadas...
Eu sei! Sou egoísta,
só penso na minha dor...
eras um anjo e isso eu sempre soube!
Perdoa-me por nunca
te ter dito o quanto gostava de ti!

...mas eu tenho este mau feitio que tu tão bem conhecias!

(Cina)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2017





CERTEZA

Sereno, o parque espera.
Mostra os braços cortados,
E sonha a primavera
Com seus olhos gelados
É um mundo que há-de vir
Naquela fé dormente;
Um sonho que há-de abrir
Em ninhos e semente.
Basta que um novo SoL
Desça do velho céu,
E diga ao rouxinol
Que a vida não morreu.

Diário II

Miguel Torga

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017




Neste dia de silêncio e ausência


Neste dia de silêncio e ausência
E tão próxima a tua presença,
O horizonte fala-me de ti
A brisa viaja na minha pele
E as andorinhas
-que construiram ninhos antes da viagem
Prometeram voltar
Para burilar os claustros da saudade

As andorinhas nunca esquecem
A casa inde nasceram...
Fazem voos na promessa do teu sorriso
-como se a vida dependesse de ti

Neste dia de silêncio e ausência
É tão o medo de amar,
O final do prazer é misterioso
A viagem  são corpos com asas...
E as andorinhas
-que parecem ter antes de entrar
Corajosas prometeram voltar.


de Pj.Conde-Paulino 
20/10/2014


Foto: Pinterest.com




Tu que tens os aromas e as cores
Da beleza que invade meu querer
Adornada em paisagens de amores
Adentrando o oasis do meu ser.

O teu corpo se revela como é
No desejo ardente e flamejante
Que exala teu perfume de mulher
E nos leva ao delírio dos amantes.

Entre toques de mãos em peles nuas
Minha boca está sedenta pela tua,
Misturando assim nossas vontades

No bailado dos corpos, a implosão,
E depois que se acalma o coração,
Repousamos na paz que nos invade.


José Bento




Foto e poema:pesquisa google

domingo, 19 de fevereiro de 2017



Onde Estás?

É meia-noite... e rugindo
Passa triste a ventania,
Como um verbo de desgraça,
Como um grito de agonia.
E eu digo ao vento, que passa
Por meus cabelos fugaz:
"Vento frio do deserto,
Onde ela está? Longe ou perto?"
Mas, como um hálito incerto,
Responde-me o eco ao longe:
"Oh! minh'amante, onde estás?. . .

Vem! É tarde! Por que tardas?
São horas de brando sono,
Vem reclinar-te em meu peito
Com teu lânguido abandono! ...
'Stá vazio nosso leito...
'Stá vazio o mundo inteiro;
E tu não queres qu'eu fique
Solitário nesta vida...
Mas por que tardas, querida?...
Já tenho esperado assaz...
Vem depressa, que eu deliro
Oh! minh'amante, onde estás? ...

Estrela — na tempestade,
Rosa — nos ermos da vida;
lris — do náufrago errante,
Ilusão — d'alma descrida!
Tu foste, mulher formosa!
Tu foste, ó filha do céu! ...
... E hoje que o meu passado
Para sempre morto jaz...
Vendo finda a minha sorte,
Pergunto aos ventos do Norte...
"Oh! minh'amante, onde estás?..."

Castro Alves



Fonte: https://www.luso-poemas.net/
Foto: Pinterest.com