sábado, 19 de novembro de 2022

 

 

 


 

Fim

 

 

O que eu perdi não foi um sonho bom,

Não foi o fruto a embebedar meus lábios,

Não foi uma canção de raro som,

Nem a graça de alguns momentos sábios.

O que eu perdi, como quem perde uma outra infância,

Foi o sentido do enternecimento,

Foi a felicidade da ignorância, foi, em verdade,

Na minha carne e no meu pensamento,

A última rubra flor do fim da mocidade.

E dói - não esse gesto ausente, a que se apagam

As flores mais solares, mas uma hora,

Flor de momento numa breve aurora -

Hora longínqua, esquiva e para sempre morta,

Em cuja escura, inacessível porta

Noturnos olhos cegamente vagam.

 

 

Abgar Renault

 


 

 

quarta-feira, 16 de novembro de 2022




Onde

 

 

Onde os olhos se fecham; onde o tempo

Faz ressoar o búzio do silêncio;

Onde o claro desmaio se dissolve

No aroma dos nardos e do sexo;

Onde os membros são laços, e as bocas

Não respiram, arquejam violentas;

Onde os dedos retraçam novas órbitas

Pelo espaço dos corpos e dos astros;

Onde a breve agonia; onde na pele

 

Se confunde o suor; onde o amor.

 

 

José Saramago, 

em “Provavelmente alegria”. Lisboa: Editorial Caminho, 1985.

 

 

 

Jose Saramago (poeta, escritor, jornalista e dramaturgo), nasceu em 16 de Novembro de 1922, em Azinhaga/Portugal – faleceu em 18 de Junho de 2010, em Lanzarote, Ilhas Canárias/Espanha. Nobel de Literatura 1998.

 

 

domingo, 13 de novembro de 2022

 

 

 


 

 

Al Centro Rayeante

 

 

Tu estás entre los cúmulos

Oro del cielo azul,

Los cúmulos radiantes

Del redondo horizonte desertado

Por el hombre embaucado,

Dios deseante y deseado;

Estas formas que llegan al cenit

Sobre el timón, adelantadas, y acompasan

El movimiento excelso lento,

Insigne cabeceo de una proa,

Cruzándose con su subir, con su bajar

Contra el sur, contra el sur,

Enhiesta, enhiesta como un pecho jadeante.

 

Tú vienes con mi norte hacia mi sur,

Tú vienes de mi este hasta mi oeste,

Tú me acompaña, crece único, y me guías

Entre los cuatro puntos inmortales,

Dejándome en su centro siempre y en mi centro

Que es tu centro.

 

Todo está dirijido*

A este tesoro palpitante,

Dios deseado y deseante,

De mi mina em que espera mi diamente;

A este rayeado movimiento

De entraña abierta (en su alma) con el sol

Del día, que te va pasando en éstasis*,

A la noche, en el trueque más gustoso

Conocido, de amor y de infinito.

 

 

Juan Ramón Jiménez