sábado, 19 de novembro de 2022

 

 

 


 

Fim

 

 

O que eu perdi não foi um sonho bom,

Não foi o fruto a embebedar meus lábios,

Não foi uma canção de raro som,

Nem a graça de alguns momentos sábios.

O que eu perdi, como quem perde uma outra infância,

Foi o sentido do enternecimento,

Foi a felicidade da ignorância, foi, em verdade,

Na minha carne e no meu pensamento,

A última rubra flor do fim da mocidade.

E dói - não esse gesto ausente, a que se apagam

As flores mais solares, mas uma hora,

Flor de momento numa breve aurora -

Hora longínqua, esquiva e para sempre morta,

Em cuja escura, inacessível porta

Noturnos olhos cegamente vagam.

 

 

Abgar Renault

 


 

 

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