Fim
O que eu perdi não foi um sonho bom,
Não foi o fruto a embebedar meus lábios,
Não foi uma canção de raro som,
Nem a graça de alguns momentos sábios.
O que eu perdi, como quem perde uma outra infância,
Foi o sentido do enternecimento,
Foi a felicidade da ignorância, foi, em verdade,
Na minha carne e no meu pensamento,
A última rubra flor do fim da mocidade.
E dói - não esse gesto ausente, a que se apagam
As flores mais solares, mas uma hora,
Flor de momento numa breve aurora -
Hora longínqua, esquiva e para sempre morta,
Em cuja escura, inacessível porta
Noturnos olhos cegamente vagam.
Abgar Renault
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