terça-feira, 5 de outubro de 2021

 

 


 

Perfil de escrava 

 

 

 Quando os olhos entreabro à luz que avança, 

Batendo a sombra e pérfida indolência, 

Vejo além da discreta transparência 

Do alvo cortinando uma criança. 

Pupila de gazela - viva e mansa, 

Com sereno temor colhendo a ardência 

Fronte imersa em palor..

Rir de inocência, 

Rir que trai ora angústia, ora esperança... 

Eis o esboço fugaz da estátua viva, 

Que - de braços em cruz - na sombra avulta 

Silenciosa, atenta, pensativa! Estátua? 

Não, que essa cadeia estulta 

Há de quebrar-se, mísera, cativa, 

Este afeto de mãe, que a dona oculta! 

 

 

Narcisa Amália, em "Nebulosas". 1872. 

 

Narcisa Amália de Campos - poeta, republicana, abolicionista e feminista do século XIX 

A poeta esquecida do século XIX

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