terça-feira, 14 de março de 2017




Deixa-me ainda, amor

Deixa-me ainda, amor, debruçar-me em teu rosto,
para ver se te acordo ao menos um instante;
e, ao cingir num abraço o teu corpo já morto,
ver se voltas a ser o meu jovem amante…

Dá-me só mais um beijo, o último de todos
- mas que seja igualmente o beijo mais perfeito!-
para que a tua alma, exilada do corpo,
eu a possa guardar no fundo do meu peito…

Hei-de beber-te assim a vida que te resta,
julgar que inda conservo o que afinal perdi,
enquanto noutro reino, entre sombras funestas,
um implacável deus me separa de ti.

Agora não duvido: esse deus é mais forte,
Pois tudo quanto é belo acaba á sua sombra.
Porque sou imortal? Porque não vem a morte
arrastar-me também para onde te encontras?


Bíon
(Grécia Séc. III a. c.)

Extraido do livro “ Os dias do Amor”




Foto:https://pt.pinterest.com/cinafraga/

segunda-feira, 13 de março de 2017



PAPOILAS VIVAS PÉTALAS NO REGAÇO


Vem amor,
Conduz meu ser pelos caminhos largos do teu peito.
Embala-me na musica que para mim compões.
Há silencio.
Apenas sinto no entrelaçar das nossas mãos a citara do amor.
A noite passa levemente num sussurro.
Caminhámos por entre as árvores.
É sedoso o chão da nossa trilha.
Sinto perfumes.
Os nardos florescem para nós.
Já os ramos nus da romãzeira.
Abrolham, sonhamos ambos as flores garridas de papel crepe,
Arigamis perfeitos tecidos de vento e lua.
Ah! Amor, reclinemo-nos aqui.
Um rio canta lá longe.
Pergunto.
É o paraíso ?
Enebria-me o perfume de maças.
Ris!
Me beijas o ventre, onde desabrocham papoilas.
Mas eu, peço.
Colhe primeiro as margaridas de meu seio.
Tu dizes!
Tu és maça, doce maça e tão mulher.
E os beijos florescem.


Augusta Mar.

13/3/2017=


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domingo, 12 de março de 2017





História inacabada


A minha história ainda não foi escrita
Continua intermitente e distorcida
Estão abertas as portas da desdita
Sobre o vão da fronteira adormecida
Enleado não encontro lugar certo
Nas fases que o tempo não fecha
Abro os braços imaginando-te perto
Tenebrosa é a força que não deixa
Na indizível arquitectura de fachada
Sobressaem frases doces desenhadas
Beijos perdidos de história inacabada
Indulgências de almas desencontradas
Segue a narrativa pela lentidão das horas
Perfumes derramados em pálpebras soltas
Fulgores contidos na apanha das amoras
Caprichosos rendilhados sempre às voltas
Nesta dança clara dos dias adversos
Entre o silêncio e o sol dos olhares
Vale-me o amor que sinto pelos versos
E a visão das dunas dos teus mares


© Orlando Alves
Todos os Direitos Reservados

Viana do Castelo, 22 de Fevereiro de 2017



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sábado, 11 de março de 2017




O LIVRO GASTO DAS HORAS

Lhe chamavam Jade.
Talvez por seus olhos serem belos,
Talvez…
Porque deixava résteas de luz quando passava.
Era jovem esbelta, airosa como uma orquidea brava.
Tinha olhos claros, pele sedosa.
Na boca de flor encarnada.
A sobriedade de uma rosa.
Ria sim.
Mas…
Havia nela traços leves de alguma mágoa.
Olhava longe, como quem olha e vê um cais.
Juraria eu, que vi aflorar nas janelas de seu olhar.
Particulas de estrelas a espreitar.
Olhavam-na tantos.
Como que lê doce poema.
Saía ao entardecer.
Colhia resteas de sol.
Particulas de poeira,
Melodias de vento,
Sussuros de vozes,
A sinfonia das aves, rente ao céu.
Tudo, como se fora escrito num pergaminho de saudade.
Sentada ALI! No cais do tempo entardecia.
Olhando sua imagem.
Cabelos dados às mãos do vento.
Matava saudades de outro tempo.
Em que caminhava de mão dada,
Com aquela que não a beijou no último suspiro.
Sem encontro marcado.
Flor colhida pelo cansaço.
Sono de lage fria.
Tudo!
Foi numa fria madrugada.


Augusta Maria.




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sexta-feira, 10 de março de 2017




Eram rotas.
Mapas rasgados no asfalto.
Pedaços de natureza, setas adornadas.
Caminhos, passos, folhas, harmonia dança.

Um leve vestido de ternura.
Pétalas de magnólia a alindar.
Uma vida traçada a lápis leve.
Crayon mágico.
Pronto a desenhar.

Desenhou com alma de artista.
A bailarina leve como ave.
Rodopia sonha na leveza da pirueta.
A menina que sonha ser artista.

Tão longe o sonho leva nosso ser.
Visões momentaneas, coloridas habitam nosso eu.
Eis que na beleza de uma imagem.
A encantadora bailarina.
Se ergue,
Tal fénix encantada renasceu.

A. Mar.

10/3/2017



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Inocência


Vou aqui como um anjo, e carregado
De crimes!
Com asas de poeta voa-se no céu...
De tudo me redimes,
Penitência
De ser artista!
Nada sei,
Nada valho,
Nada faço,
E abre-se em mim a força deste abraço
Que abarca o mundo!

Tudo amo, admiro e compreendo.
Sou como um sol fecundo
Que adoça e doira, tendo
Calor apenas.
Puro,
Divino
E humano como os outros meus irmãos,
Caminho nesta ingénua confiança
De criança
Que faz milagres a bater as mãos.


Miguel Torga, in 'Penas do Purgatório'



Fonte: citador:pt

Foto: pesquisa google

quinta-feira, 9 de março de 2017




Depois da pausa,
na sua elegância filiforme,
as figuras musicais tendem a juntar-se
no olhar cansado do músico.
No entanto, pouco importa a pauta
se já estiver escrita na alma
com dedos e sentimento.
Pianinho,
os sons tendem a navegar em crescendo.
Quando levanto as pálpebras,
há como chocolate opíparo
aquecendo-me por dentro...
no sorriso do teu olhar esterlino
onde dançam os anjos
e os arcanjos cantando o hino.
Apoteótica,
a sensação opiácea é veemente
as dores tardias já não importam
nem as notas fantasmas mentem
ao som da melodia eufórica
do amor - em escala ascendente
em cada nota abraçada
nesta sintonia empolgante.


Pj.Conde-Paulino



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