O sorriso das pernas
Vieste sem perguntas, como quem caminha
pela estrada e não pára à entrada da casa.
Cortaste-me o pão aos pedacinhos,
fizeste o ninho na almofada onde o meu sono dorme
com as histórias que desdobras no lençol.
Dei cor aos nomes com as letras devastadas,
comi a fruta com os teus dedos, deitei-me
entre o polegar e teu médio, entre os duendes
da clareira que abriste para o dia.
Cantaste a minha dor e dela fiz a manta que nos cobre.
Voltei a ser o sorriso das pernas,
o sopro na voz que chega onde estiveres.
Agora que não há perto ou longe, ou coisa que faça mal,
que tudo se toca por dentro do devir,
deixo um nenúfar à porta para quem chegue com o fardo da
noite.
E faz-se luz com as pétalas abertas do teu nome.
Rosa
Alice Branco
Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/
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