domingo, 9 de abril de 2017





Devaneio


Perdi-te e nunca foste meu,
Perdi-me em ti como num desejo,
Éramos só os dois: tu e eu,
Éramos alma, éramos lampejo.
Possuí-te em sortilégios secretos
Na minha pele, na carne e no meu sangue
Eras o rio profundo dos afectos
Onde mergulhava e emergia exangue.
Em ti derramei lágrimas de espantos,
Gargalhadas cálidas e anseios
Pois que eram para ti todos meus cantos
De pele, de alma e coração cheios.
Lembro-te na memória dos meus dias,
Na vida que almejava e se logrou.
És agora sombra das minhas noites frias,
Aquela sombra cujo vento olvidou.
Ficaram palavras inacabadas
Num sonho que por ser, ficou desfeito
Em longas e eternas alvoradas.
Esqueço-me de ti de manhãzinha
Quando o sol reabre a minha porta
E me chama por me julgar morta.
E nunca foram ditas as palavras
Que silenciassem madrugadas...



Tereza Brinco Oliveira, 
in Laços de Luar e Outras Histórias.



Foto: Katia Chausheva



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