terça-feira, 28 de março de 2023
segunda-feira, 27 de março de 2023
Ingénua como as águas, diáfana como o dia,
Era pálida e loura, - Margarida sem par.
Ao influxo de sua alma celeste, amanhecia,
E era cheia de graça, como na Ave Maria:
Quem a viu não consegue esquecer seu olhar!
Uma doce e amável dignidade a investia
De não sei que prestígio distante e singular.
Mais que muitas princesas, princesa parecia,
E era cheia de graça, como na Ave Maria:
Quem a viu não consegue esquecer seu olhar!
(...)
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Amado Nervo
quinta-feira, 23 de março de 2023
sexta-feira, 17 de março de 2023
Balada da Neve
Batem leve, levemente,
Como quem chama por mim.
Será chuva? Será gente?
Gente não é, certamente
E a chuva não bate assim.
É talvez a ventania:
Mas há pouco, há poucochinho,
Nem uma agulha bulia
Na quieta melancolia
Dos pinheiros do caminho...
Quem bate, assim, levemente,
Com tão estranha leveza,
Que mal se ouve, mal se sente?
Não é chuva, nem é gente,
Nem é vento com certeza.
Fui ver. A neve caía
Do azul cinzento do céu,
branca e leve, branca e fria...
Há quanto tempo a não via!
E que saudades, Deus meu!
Olho-a através da vidraça.
Pôs tudo da cor do linho.
Passa gente e, quando passa,
Os passos imprime e traça
Na brancura do caminho...
Fico olhando esses sinais
Da pobre gente que avança,
E noto, por entre os mais,
Os traços miniaturais
Duns pezitos de criança...
E descalcinhos, doridos...
A neve deixa inda vê-los,
Primeiro, bem definidos,
Depois, em sulcos compridos,
Porque não podia erguê-los!...
Que quem já é pecador
Sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
Porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
E uma infinita tristeza,
Uma funda turbação
Entra em mim, fica em mim presa.
Cai neve na Natureza
E cai no meu coração.
Augusto César Ferreira Gil (1873-1929)
Augusto César Ferreira Gil foi um advogado e poeta português. Passou a maior parte da sua vida na mais alta cidade de Portugal, Guarda, a "sagrada Beira", de cuja paisagem encontramos reflexos em muitos dos seus poemas...
quarta-feira, 15 de março de 2023
sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023
Recordar David Mourão-Ferreira, escritor e poeta português (1927-1996).
Alvorada
E de súbito um corpo!
Alvorada sombria,
Alvorada nefasta envolta nuns cabelos.
Eram negros e vivos. Quem sofria,
Só de vê-los?
Eram negros; e vivos como chamas.
Brilhavam, azulados sob a chuva.
Brilhavam, azulados, como escamas
De sereia sombria, sob a chuva...
Veio cedo de mais a trovoada:
O vento me lembrou
De quem eu sou.
- Alvorada suspensa! Contemplada
por alguém que chegou a uma sacada
e à beira da varanda vacilou.
David Mourão-Ferreira