sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

 

 

 




 

 

Recordar David Mourão-Ferreira, escritor e poeta português (1927-1996).

 

Alvorada

 

E de súbito um corpo!

Alvorada sombria,

Alvorada nefasta envolta nuns cabelos.

Eram negros e vivos. Quem sofria,

Só de vê-los?

 

Eram negros; e vivos como chamas.

Brilhavam, azulados sob a chuva.

Brilhavam, azulados, como escamas

De sereia sombria, sob a chuva...

 

Veio cedo de mais a trovoada:

O vento me lembrou

De quem eu sou.

- Alvorada suspensa! Contemplada

por alguém que chegou a uma sacada

e à beira da varanda vacilou.

 

 

David Mourão-Ferreira

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