quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Vem comigo

 

 


 

 

Vem comigo ver as pirâmides fantásticas do vento

No interior luminoso da terra encontrarás 

O segredo de quartzo para desvendares o tempo 

Onde contemplamos a fulva doçura das cerejas 

Iremos para onde os restos de vida não acordem 

A dor da imensa árvore a sombra 

Dos cabelos carregados de pólenes e de astros 

Crescemos lado a lado com o dragão 

O súbito relâmpago dos frutos amadurecendo 

Iluminará por um instante as águas do jardim 

E o alecrim perfumará os noctívagos passos 

Há muito prisioneiros no barro 

Onde o rosto se transforma e morre 

E já não nos pertence 

Vem comigo 

Praticar essa arte imemorial de quem espera 

Não se sabe o quê junto à janela 

Encolho-me 

Como se fechasse uma gaveta para sempre 

Caminhasse onde caiu um lenço 

Mas levanto os olhos 

Quando o verão entra pelo quarto e devassa 

Esta humilde existência de papel 

Vem comigo 

As palavras nada podem revelar 

Esqueci-as quase todas onde vislumbro um fogo 

Pegando fogo ao corpo mais próximo do meu 

 

Al Berto 

 

(in O Medo, Assírio & Alvim)

terça-feira, 16 de março de 2021


 

 

 

A exaltação da pele

 

 

Hoje quero com a violência da dádiva interdita.

Sem lírios e sem lagos

E sem gesto vago

Desprendido da mão que um sonho agita.

Existe a seiva. Existe o instinto. E existe eu

Suspensa de mundos cintilantes pelas veias

Metade fêmea metade mar como as sereias.

 

Natália Correia, ativista social e escritora portuguesa (1922-1993).

in "Poemas". 1955.

 

 

Julia Borodina Photography

 

 

 

terça-feira, 9 de março de 2021


 


Ao teu corpo colou-se o vestido de seda

 como uma segunda pele entre os seios pequenos

 Viceja perene um raminho de cravos

 

Saul Dias

 

 

 

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

 

 


 

 

En nuestros cuerpos, un cielo abraza a una tierra, y toda tú eres tu noche...

Una noche que resplandece como la tinta de los astros.

.

Mahmud Darwish