quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021



Nossa Cabana em Yveline

 

Cabana, teus adornos são margaridas, rosas:

a teus pés suas alvuras, sobre ti suas cores

A natureza faz muito bem às coisas,

mesmo corações dentro de um ramo de flores que,

 

dura apenas quanto nossos amores.

 

Paul Fort, poeta francês 1872/1960



 

 



Yuri Yarosh Painter

quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

 

 

 


 

Mira, no pido mucho,

solamente tu mano, tenerla

como un sapito que duerme así contento.

 

 

Julio Cortazar

 


terça-feira, 26 de janeiro de 2021

 
 
 
 

Um anjo vem todas as noites:

senta-se ao pé de mim, e passa

sobre meu coração a asa mansa,

como se fosse meu melhor amigo.

Esse fantasma que chega e me abraça

(asas cobrindo a ferida do flanco)

é todo o amor que resta

entre ti e mim, e está comigo.

 

 

Lya Luft


terça-feira, 19 de janeiro de 2021

 
 
 

 
 
 
 
 
 
Nada tão silencioso como o tempo
no interior do corpo. Porque ele passa
com um rumor nas pedras que nos cobrem,
e pelo sonoro desalinho de algumas árvores
que são os nossos cabelos imaginários.
Até na íris dos olhos o tempo
faz estalar faíscas de luz breve.
Só no interior sem nome do nosso corpo
ou esfera húmida de algum astro
ignoto, numa órbita apartada,
o tempo caladamente persegue
o sangue que se esvai sem som.
Entre o princípio e o fim vem corroer
as vísceras, que ocultamos como a Terra.
Trilam os lábios nossos, à semelhança
das musicais manhãs dos pássaros.
Mesmo os ouvidos cantam até à noite
ouvindo o amor de cada dia.
A pele escorre pelo corpo, com o seu correr
de água, e as lágrimas da angústia
são estridentes quando buscam o eco.
Mas nós sentimos dentro do coração que somos
filhos dilectos do tempo e que, se hoje amamos,
foi depois de termos amado ontem.
O tempo é silencioso e enigmático
imerso no denso calor do ventre.
Guardado no silêncio mais espesso,
o tempo faz e desfaz a vida.
 
 
Fiama Hasse Pais Brandão, in Cenas Vivas
 

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

 

 

 

 


 

Os Anos de Ti para Mim

 

 

O teu cabelo volta a ondular-se quando choro. Com o azul dos

teus olhos

pões a mesa do nosso amor: uma cama entre o verão e o

outono.

Bebemos o que alguém preparou, que não era eu, nem tu, nem

um terceiro:

sorvemos um último vazio.

 

Miramo-nos nos espelhos do mar profundo e passamos mais

depressa um ao outro os alimentos:

a noite é a noite, começa com a manhã,

é ela que me deita a teu lado.

 

 

Os Anos de Ti para Mim

O teu cabelo volta a ondular-se quando choro. Com o azul dos

teus olhos

pões a mesa do nosso amor: uma cama entre o verão e o

outono.

Bebemos o que alguém preparou, que não era eu, nem tu, nem

um terceiro:

sorvemos um último vazio.

 

Miramo-nos nos espelhos do mar profundo e passamos mais

depressa um ao outro os alimentos:

a noite é a noite, começa com a manhã,

é ela que me deita a teu lado.

 

Paul Celan, poeta ucraniano-francês (1920-1970).,

 

 in "Papoila e Memória"

 

Tradução de João Barrento e Y. K. Centeno