segunda-feira, 23 de novembro de 2020

 

 

 

 


 

Os Anos de Ti para Mim

 

 

O teu cabelo volta a ondular-se quando choro. Com o azul dos

teus olhos

pões a mesa do nosso amor: uma cama entre o verão e o

outono.

Bebemos o que alguém preparou, que não era eu, nem tu, nem

um terceiro:

sorvemos um último vazio.

 

Miramo-nos nos espelhos do mar profundo e passamos mais

depressa um ao outro os alimentos:

a noite é a noite, começa com a manhã,

é ela que me deita a teu lado.

 

 

Os Anos de Ti para Mim

O teu cabelo volta a ondular-se quando choro. Com o azul dos

teus olhos

pões a mesa do nosso amor: uma cama entre o verão e o

outono.

Bebemos o que alguém preparou, que não era eu, nem tu, nem

um terceiro:

sorvemos um último vazio.

 

Miramo-nos nos espelhos do mar profundo e passamos mais

depressa um ao outro os alimentos:

a noite é a noite, começa com a manhã,

é ela que me deita a teu lado.

 

Paul Celan, poeta ucraniano-francês (1920-1970).,

 

 in "Papoila e Memória"

 

Tradução de João Barrento e Y. K. Centeno

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