quinta-feira, 30 de abril de 2020
terça-feira, 28 de abril de 2020
28 de Abril dia do sorriso
Soneto da saudade
Quando sentires a saudade retroar
Fecha os teus olhos e verás o meu sorriso.
E ternamente te direi a sussurrar:
O nosso amor a cada instante está mais vivo!
Quem sabe ainda vibrará em teus ouvidos
Uma voz macia a recitar muitos poemas...
E a te expressar que este amor em nós ungindo
Suportará toda distância sem problemas...
Quiçá, teus lábios sentirão um beijo leve
Como uma pluma a flutuar por sobre a neve,
Como uma gota de orvalho indo ao chão.
Lembrar-te-ás toda ternura que expressamos,
Sempre que juntos, a emoção que partilhamos...
Nem a distância apaga a chama da paixão
Guimarães Rosa
segunda-feira, 20 de abril de 2020
Poema, beijo, estrela, afago…
Outra coisa que o corpo há quem conheça.
Eu não. Somente nele me cumpro viva.
Poema, beijo, estrela, afago, intriga
Só no corpo me são pés e cabeça.
E coração também que às vezes teça
Razão de me saber mais que medida
Nessa trágica trama tão antiga
A que chamam ficar de amor possessa.
E é de novo poema, beijo, afago.
É de novo corpo que te trago
A exótica festa da nudez.
E tudo quanto sinto e quanto penso
Toma corpo no corpo a que pertenço.
E aqui estou: de barro, como vês.
Rosa Lobato de Faria, escritora portuguesa (1932- 2010).
sábado, 18 de abril de 2020
Apocalipse
As velas estão abertas como luzes.
As ondas crespas cantam porque o vento as afogou.
As estrelas estão dependuradas no céu e oscilam.
Nós as veremos descer ao mar como lágrimas.
As estrelas frias se desprenderão do céu
E ficarão boiando, as mãos brancas inertes, sobre as águas
frias.
As estrelas serão arrastadas pelas correntes boiando nas
águas imensas.
Seus olhos estarão fechados docemente
E seus seios se elevarão gelados e enormes
Sobre o escuro do tempo.
Augusto Frederico Schmidt, poeta brasileiro 1906/1965
sexta-feira, 17 de abril de 2020
Amanhã meu amor,
Amanhã faço poemas com os teus dedos donde nascem flores,
amanhã escrevo-te cartas com os lábios a tremer de frio,
amanhã adormeço desperta no canto mais canto que houver da
tua voz,
Amanhã meu amor,
Verei todas as folhas amarelas que nascem do chão e
regressam aos ramos dos teus braços,
amanhã vou dançar no silêncio proibido que te cala,
amanhã fecho os olhos e finjo que estou acordada
para que me toques as pálpebras com a respiração ofegante de
quem cega,
Amanhã meu amor,
Abro as janelas do peito onde nascem estrelas sem céu,
abro a cama e procuro-te debaixo dela,
dou-te a mão para que me encontres no mapa da pele dorida,
para que me encontres talvez no mesmo sítio de sempre onde
nunca foste,
Amanhã meu amor,
Dedico-te o vento que roça as estátuas já esverdeadas da tua
cidade,
faço-te promessas de palavras que não existem,
desafio-te para um duelo de um só combatente,
deixo-te sozinho comigo encostada aos teus ombros de lava,
Amanhã meu amor,
Vou cantar canções na rádio da frequência 0.00,
vou atirar-te areia com os pés no meio de lugar nenhum,
devolvo-te as minhas ideias que nunca ouviste porque não sei
dizê-las com boca nem mão,
Amanhã meu amor,
Vou gostar de ti como se fosses uma manga doce,
vou ter medo das paredes intactas do teu ser,
vou gritar às raízes das árvores por não as ser,
vou girar à volta do mundo sem sequer o saber,
Amanhã meu amor,
Vou desenhar a lápis de cera como as crianças,
dar-te um desenho de que me vou esquecer,
amadurecer à tua espera, à espera de me ver em ti,
Amanhã meu amor,
Vou fazer malabarismo com o tempo,
desprender-te da liberdade, da minha liberdade,
aconchegar-te à noite sem saberes,
Só porque amanhã meu amor,
Amanhã,
Vou continuar a gostar de Ti.
Raquel Lacerda
1987 (Inédito)
Extraído do livro, Os Dias do Amor
Pag 410
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