segunda-feira, 9 de dezembro de 2019





Este inferno de amar



Este inferno de amar - como eu amo!
Quem mo pôs aqui n’alma… quem foi?
Esta chama que alenta e consome,
Que é vida - e que a vida destrói.
Como é que se veio atear,
Quando - ai se há-de ela apagar?

Eu não sei, não me lembra: o passado,
A outra vida que dantes vivi
Era um sonho talvez… foi um sonho.
Em que a paz tão serena a dormi!
Oh! Que doce era aquele olhar…
Quem me veio, ai de mim! Despertar?

Só me lembra que um dia formoso
Eu passei… Dava o Sol tanta luz!
E os meus olhos que vagos giravam,
Em seus olhos ardentes os pus.
Que fez ela? Eu que fiz? Não o sei;
Mas nessa hora a viver comecei…
Por instinto se revela,
Eu no teu seio divino
Vim cumprir o meu destino...
Vim, que em ti só sei viver,
Só por ti posso morrer.



Almeida Garrett, escritor português (1799-1854).


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Agora preciso da tua mão,
não para que eu não tenha medo,
mas para que tu não tenhas medo.
Sei que acreditar em tudo isso será,
no começo, a tua grande solidão.
Mas chegará o instante em que me darás a mão,
não mais por solidão, mas como eu agora:
Por amor.





Clarice Lispector, escritora brasileira (1920-1977).



Foto: Pesqisa Google

sexta-feira, 29 de novembro de 2019






Floresta




De olhos fechados
mergulho em teu ventre.
Perfumes se encontram
no meu rosto. Braços
apanham meus cabelos.

Braços leves, pesados,
amorosos ou rudes,
Braços de cedro
ou espinheiro,
de parasitas
ou cravos selvagens.

No ar e na boca
um gosto de erva
amanhecida. Um gosto
de coisa lavada.
Um ar de chuva
e terra. Um gosto
de mundo amanhecendo.

Oh, enveredar
por esse mundo livre
e ser uma entre as árvores
que formam o volume
do teu rosto.

Enveredar por esse mundo livre.
Conhecer a geografia
do teu peito. Misturar-me
à conversa das folhas
e adivinhar o casamento
secreto das raízes!



Lila Ripoll






terça-feira, 26 de novembro de 2019






E aqueles que foram vistos dançando foram julgados insanos
por aqueles
que não podiam escutar a música.




Friedrich Nietzsche




sábado, 23 de novembro de 2019





Distâcias


Olho no olho, no frio, 
Deixa-nos também começar assim: 
Juntos

Deixa-nos respirar o véu 
Que nos esconde um do outro, 
Quando a noite se dispõe a medir 
O que ainda falta chegar 
De cada forma que ela toma 
Para cada forma 
Que ela a nós dois emprestou. 



Paul Celan, poeta ucraniano-francês (1920-1970).

( tradução: Claudia Cavalcanti ) 



Foto: Pesquisa Google

sexta-feira, 22 de novembro de 2019






22 de Novembro - Dia do Músico


A música deve trazer Paz no coração dos homens; E lágrimas aos olhos de uma mulher!



Ludwig van Beethoven




https://youtu.be/9ZZ3-YU2o6g

quinta-feira, 21 de novembro de 2019






Olho pela janela e não vejo o mar.
As gaivotas andam por aí e a roupa vai secando no varal.
Manhã cedo, o mar ainda não veio.
Veio o pão, veio o lume e o jornal.
A saliva com que te hei-de dizer bom dia.
As palavras são as primeiras a chegar.
O que fica delas amacia o papel.
Pão quente com o sono de ontem e os sonhos de hoje.
Prepara-se o dia, os passos de ir e vir.
Estou cada vez mais perto.
Olhas-me como se soubesses o que hei-de saber mais logo.
Nesta cidade nunca é meio-dia.
Há sempre uma doçura de outras horas.




Rosa Alice Branco



Foto: Pesquisa Google