segunda-feira, 1 de maio de 2017





PROFETAS FALSOS

Profetas falsos vieram em teu nome
Anjos errados disseram que tu eras
Um poema frustrado
Na angústia sem razão das primaveras
Porém eu sei que tu és a verdade
E és o caminho transparente e puro
Embora eu não te encontre e no obscuro
Mundo das sombras morra de saudade.


Sophia de Mello Breyner


Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/

domingo, 30 de abril de 2017




Só deixarei de ter amar quando
O véu da morte cobrir minha face,
Mesmo assim nascerá em minha sepultura
Uma rosa em cujas pétalas,
De sangue, estará escrito: Te amo!


Vinicius de Moraes


Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/

sábado, 29 de abril de 2017




As lágrimas e as memórias
num terraço branco.
Um ramo de sol
na pele das paredes.
O gume dos olhares
e as sombras dobradas à janela.
O suor das incertezas
no aço das cortinas.
O sol amaciou e perdeu-se no dia
como se perde o tempo no relógio,
e nos dedos da casa as lágrimas
falam-me de ti.


[ © António Carlos Santos ]


sexta-feira, 28 de abril de 2017






É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a idéia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos
severos conosco, pois o resto não nos pertence.



Cecília Meireles


Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/

quarta-feira, 26 de abril de 2017




Os dias e as noites
fazem-se irmãs da saudade.
As gotas sufocantes
abraçam-se à água tristonha .
O vento assobia entre os dedos
o fim das palavras.
Os últimos beijos
pedem perdão pela tristeza.
Os sorrisos que levam nos ombros,
ausências e falta de cor,
tresandam a quimeras tardias.
Mas aqui é o meu lugar…
Ofereço-te assim os “porquês”
do voo incerto das gaivotas.
[ © António Carlos Santos ]
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" requiem "

In. "50 Anos, 50 Poemas" ( Seda Publicações )


Foto: Pesquisa Google



Sem palavras

A vida inteira busquei
explicações e deciframentos:
encontrei silêncio e segredo,
às vezes o conforto de um ombro,
outras vezes
dor.

No último lapso
de um tempo sem limites
-embora a gente o queira compor
em fragmentos-,
abriram-se as águas
e entrei onde sempre estivera.
Tudo compreendido
e absolvido,
absorta eu me tornei
luz sem sombra:
assombro.


(Autora :Lia Luft)


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terça-feira, 25 de abril de 2017


Nátália Correia - Poetisa, romancista, ensaísta, jornalista e dramaturga


Soneto de abril


Evoé! de pâmpano os soldados 
rompem do tempo em que Evoé!
 a terra
salvé rainha descruzando os braços
com seu pé de papiro pisa a fera.
Na écloga dos rostos despontados 
onde dos corvos se retira a treva,
de beijo em beijo as ruas são bailados 
mudam-se as casas para a primavera.
Evoé! o povo abre o touril
e sai o Sol perfeitamente Abril 
maravilha da Pátria ressurrecta.
Evoé! evoé! Tágides minhas
outras vez prateadas campainhas
sois na cabeça em fogo do poeta.


- Natália Correia, 
em "PoemAbril- antologia de autores. 

[organização Carlos Loures e Manuel Simões]. Coimbra: Fora do Texto - Cooperativa Editorial de Coimbra, 1994.



Fonte: http://www.elfikurten.com.br/2016/04/natalia-correia-poemas.html
Imagem: Pesquisa Google