segunda-feira, 20 de março de 2017





A Noite Desce


Como pálpebras roxas que tombassem
Sobre uns olhos cansados, carinhosas,
A noite desce... Ah! doces mãos piedosas
Que os meus olhos tristíssimos fechassem!
Assim mãos de bondade me beijassem!
Assim me adormecessem! Caridosas
Em braçados de lírios, de mimosas,
No crepúsculo que desce me enterrassem!
A noite em sombra e fumo se desfaz...
Perfume de baunilha ou de lilás,
A noite põe embriagada, louca!
E a noite vai descendo, sempre calma...
Meu doce Amor tu beijas a minh'alma
Beijando nesta hora a minha boca!



Florbela Espanca, 
in "Livro de Sóror Saudade"


Fonte: http://www.citador.pt/poemas/
Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/




AS ROSAS

Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes
Todo o fulgor das tardes luminosas

O vento bailador das Primaveras
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas

Quando à noite desfolho e trinco as rosas

És tu a Primavera que eu esperava,
A vida multiplicada e brilhante,
Em que é pleno e perfeito cada instante

Quando à noite desfolho e trinco as rosas
És tu a Primavera que eu esperava.



Sophia de Melo Breyner Andresen


1919-2004



Foto:https://www.pinterest.pt/cinafraga/

domingo, 19 de março de 2017





Pai, a Minha Sombra és Tu
a cadeira está vazia, um corpo ausente
não aquece a madeira que lhe dá forma

e não ouço o recado que me quiseste dar
nem a tua voz forte que grita meninos
na hora de acordar
ouço o teu abraço, no corredor em gaia
e os olhos molhados pela inusitada despedida

o sol foge
mas o crepúsculo desenha a sombra que
tenho colada aos pés
ou o espelho, coberto com a tua face

pai, digo-te
a minha sombra és tu


Jorge Reis-Sá, 
in "A Palavra no Cimo das Águas"




Foto: https://pt.pinterest.com/cinafraga/

sábado, 18 de março de 2017





LEIO-TE


Leio-te como um livro!
De folhas suaves
Escrita fina
Tinta perfumada.
Assim tu és
Agarrada aos meus dedos
Sem a canseira
Que nasce da pressa
De mais encanto ler.
E ao revelar-te
Invento um tempo
Sem volume
Nem edição.
Viro uma página
Outra me prende
E na última
Recomeço de novo.



( António Silva Melo, In Esboços, 2014)



Fonte: https://www.facebook.com/antoniosilvamelo.melo
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sexta-feira, 17 de março de 2017




Foi para ti que criei as rosas.
Foi para ti que lhes dei perfume.
Para ti rasguei ribeiros
e dei às romãs a cor do lume.

Foi para ti que pus no céu a lua
e o verde mais verde nos pinhais.
Foi para ti que deitei no chão
Um corpo aberto como os animais


Eugénio de Andrade


Fomte: Pensador
Foto: Pesquisa Google

quinta-feira, 16 de março de 2017





MARGEM


Há nas margens de mim, um rio calmo.
Reclinam-se nessas margens os que amo.
Deus meu!
Porque é que corro num cansaço.
Procurando esse lugar sonhado.
De nadas me alindo.
De tudos me dispo.
Preciso, não tenho.
Ao dar me refaço.
Procuro, desvendo.
Segredos, sementes.
Ajudei a florir, almas tão descrentes.
Bebo cantares de água.
Ergo taças plenas.
De orvalho, carinhos.
Há orquestras escondidas.
Melodias nos ninhos.
Tudo isto para mim.
É poesia, é melancolia nas margens de mim.
Sou a margem.
O rio, sou as sedas de água.
Sou a que sorri,
Ou a que chora a rir,
Em murmúrios de água.


Augusta Mar.



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Fonte: https://www.facebook.com/augustamaria.goncalves

quarta-feira, 15 de março de 2017




" Mulher"

Anjo de asas soltas
gota de aconchego,
ventre e regaço,
fusão de sonhos,
e porto de abrigo,
alvéolo de vida
de sentimentos inteiros
em tamanho de céu e mar
sem medida…
Pétala de primavera
de todas as estações
em desfolhada de Amor.
Rainha das cores
que tingem o arco íris
e que no corpo
tem a repousar nos seios
parir
pascer
gerar
criar
florir
em Amor.
[ © António Carlos Santos ]


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" mulher"
Poema de: © António Carlos Santos

iN:Poesia "Versos de Mel & Fel" (Editora Versbrava)




Fonte:https://www.facebook.com/antoniocarlos.santos.33
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