quarta-feira, 16 de novembro de 2022




Onde

 

 

Onde os olhos se fecham; onde o tempo

Faz ressoar o búzio do silêncio;

Onde o claro desmaio se dissolve

No aroma dos nardos e do sexo;

Onde os membros são laços, e as bocas

Não respiram, arquejam violentas;

Onde os dedos retraçam novas órbitas

Pelo espaço dos corpos e dos astros;

Onde a breve agonia; onde na pele

 

Se confunde o suor; onde o amor.

 

 

José Saramago, 

em “Provavelmente alegria”. Lisboa: Editorial Caminho, 1985.

 

 

 

Jose Saramago (poeta, escritor, jornalista e dramaturgo), nasceu em 16 de Novembro de 1922, em Azinhaga/Portugal – faleceu em 18 de Junho de 2010, em Lanzarote, Ilhas Canárias/Espanha. Nobel de Literatura 1998.

 

 

domingo, 13 de novembro de 2022

 

 

 


 

 

Al Centro Rayeante

 

 

Tu estás entre los cúmulos

Oro del cielo azul,

Los cúmulos radiantes

Del redondo horizonte desertado

Por el hombre embaucado,

Dios deseante y deseado;

Estas formas que llegan al cenit

Sobre el timón, adelantadas, y acompasan

El movimiento excelso lento,

Insigne cabeceo de una proa,

Cruzándose con su subir, con su bajar

Contra el sur, contra el sur,

Enhiesta, enhiesta como un pecho jadeante.

 

Tú vienes con mi norte hacia mi sur,

Tú vienes de mi este hasta mi oeste,

Tú me acompaña, crece único, y me guías

Entre los cuatro puntos inmortales,

Dejándome en su centro siempre y en mi centro

Que es tu centro.

 

Todo está dirijido*

A este tesoro palpitante,

Dios deseado y deseante,

De mi mina em que espera mi diamente;

A este rayeado movimiento

De entraña abierta (en su alma) con el sol

Del día, que te va pasando en éstasis*,

A la noche, en el trueque más gustoso

Conocido, de amor y de infinito.

 

 

Juan Ramón Jiménez

 

 

 

 

sábado, 12 de novembro de 2022

 

 

 


 

As Uvas e o  Vento

 

 

Era o tempo de Pushkin,

A primavera plana,

Uma onda no ar

Como a vela pura

De um barco transparente

Ia pelas campinas

Levantando a erva e o aroma

Das germinações.

Perto de Leninegrado os abetos

Dançavam uma valsa lenta

De horizonte marinho.

Numa a Este

Marchavam os motores,

As rodas, a energia,

Os rapazes e as moças.

Trepidava a estepe,

Os cordeiros punham

Sua pontuação nevada

Na imensa extensão da ternura.

Vasta é a União Soviética

Como nenhuma terra.

Tem espaço

Para a menor flor azul

E para a usina gigante.

Tremem e cantam grandes rios

Sobre sua pele extensa

E ali vive

O esturjão que guarda envolto em prata

Diminutos cachos

De frescor e delícia.

O urso nas montanhas

Vai com os pés delicados

Como um antigo monge da aurora

De uma basílica verde.

Mas é o homem o rei

Das terras soviéticas,

O pequeno homem

Que acaba de nascer,

Chama-se Ivan ou Pedro,

E chora

E pede leite:

É ele, o herdeiro.

Largo é o reino e afofado

Com tapetes de erva e neve.

A noite apenas cobre

Com seu diadema frio

A cabeça, o cimo

Dos montes Urais,

E o mar lambe o contorno

De gelo ou terra doce,

Glaciais territórios

Ou países de uva.

Tudo possui:

A terra em movimento

Como uma vasta empresa

Onde deve,

Desde que nasce,

Cantar e trabalhar,

Porque o reino fecundo

É obra de homens.

Antes foi escura a terra,

Fome e dor encheram

O tempo e o espaço.

Então na história

Veio Lênin

Mudou a terra,

Depois Stalin

Mudou o homem

Depois a paz, a guerra,

O sangue, o trigo:

Dificilmente tudo

Se foi cumprindo

Com força e alegria,

E hoje Ivan herdou

De mar a mar a primavera rubra,

Por onde te levo pela mão.

Escuta, escuta

Este canto de pássaros:

Silva a prata no temor molhado

De sua voz matutina,

Eu o persigo entre agulhas

E leques de pinheiros

Outro canto responde,

Povoa-se o bosque

De vozes na altura.

De bosque a bosque cantam,

De semana a semana,

De aurora a aurora mudam

Trios recém-nascidos.

De aldeia a aldeia se respondem,

De usina a usina,

De rio a rio,

De metal a metal, de canto a canto.

O vasto reino canta,

Se responde cantando

Orvalho têm folhas

Na manhã clara.

Sabor de estrela fresca

Tem bosque.

Como por um planeta

Vai lentamente andando

A primavera pela terra russa,

E espigas e homens nascem

Sob seus pés de prata.

 

 

(Pablo Neruda)

 

(Tradução de Carlos Nejar)

 

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