domingo, 19 de março de 2017





Pai, a Minha Sombra és Tu
a cadeira está vazia, um corpo ausente
não aquece a madeira que lhe dá forma

e não ouço o recado que me quiseste dar
nem a tua voz forte que grita meninos
na hora de acordar
ouço o teu abraço, no corredor em gaia
e os olhos molhados pela inusitada despedida

o sol foge
mas o crepúsculo desenha a sombra que
tenho colada aos pés
ou o espelho, coberto com a tua face

pai, digo-te
a minha sombra és tu


Jorge Reis-Sá, 
in "A Palavra no Cimo das Águas"




Foto: https://pt.pinterest.com/cinafraga/

sábado, 18 de março de 2017





LEIO-TE


Leio-te como um livro!
De folhas suaves
Escrita fina
Tinta perfumada.
Assim tu és
Agarrada aos meus dedos
Sem a canseira
Que nasce da pressa
De mais encanto ler.
E ao revelar-te
Invento um tempo
Sem volume
Nem edição.
Viro uma página
Outra me prende
E na última
Recomeço de novo.



( António Silva Melo, In Esboços, 2014)



Fonte: https://www.facebook.com/antoniosilvamelo.melo
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sexta-feira, 17 de março de 2017




Foi para ti que criei as rosas.
Foi para ti que lhes dei perfume.
Para ti rasguei ribeiros
e dei às romãs a cor do lume.

Foi para ti que pus no céu a lua
e o verde mais verde nos pinhais.
Foi para ti que deitei no chão
Um corpo aberto como os animais


Eugénio de Andrade


Fomte: Pensador
Foto: Pesquisa Google

quinta-feira, 16 de março de 2017





MARGEM


Há nas margens de mim, um rio calmo.
Reclinam-se nessas margens os que amo.
Deus meu!
Porque é que corro num cansaço.
Procurando esse lugar sonhado.
De nadas me alindo.
De tudos me dispo.
Preciso, não tenho.
Ao dar me refaço.
Procuro, desvendo.
Segredos, sementes.
Ajudei a florir, almas tão descrentes.
Bebo cantares de água.
Ergo taças plenas.
De orvalho, carinhos.
Há orquestras escondidas.
Melodias nos ninhos.
Tudo isto para mim.
É poesia, é melancolia nas margens de mim.
Sou a margem.
O rio, sou as sedas de água.
Sou a que sorri,
Ou a que chora a rir,
Em murmúrios de água.


Augusta Mar.



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Fonte: https://www.facebook.com/augustamaria.goncalves

quarta-feira, 15 de março de 2017




" Mulher"

Anjo de asas soltas
gota de aconchego,
ventre e regaço,
fusão de sonhos,
e porto de abrigo,
alvéolo de vida
de sentimentos inteiros
em tamanho de céu e mar
sem medida…
Pétala de primavera
de todas as estações
em desfolhada de Amor.
Rainha das cores
que tingem o arco íris
e que no corpo
tem a repousar nos seios
parir
pascer
gerar
criar
florir
em Amor.
[ © António Carlos Santos ]


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" mulher"
Poema de: © António Carlos Santos

iN:Poesia "Versos de Mel & Fel" (Editora Versbrava)




Fonte:https://www.facebook.com/antoniocarlos.santos.33
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Se a poesia da vida for verdade
então
a verdade existirá na poesia da imagem.
Leio-a, na ternura do olhar
e nos gestos das tuas mãos.
a mensagem:
de quem sabe amar por defeito,
com efeito:
desenho-te a silhueta dos dias, das noites...
e - ao fazer amor na madrugada
com a tua imagem renovada -,
descubro que o amor é novo
não envelhece,
nem se perde nos sulcos da pele;
antes, a poesia é mais viva
na imagem,
desse sentimento sem idade.


Pj.Conde-Paulino

in Castelo de Palavras e Sentimentos 
– 03/09/2015 – 



Fonte: https://www.facebook.com/pjpaulino
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terça-feira, 14 de março de 2017




Deixa-me ainda, amor

Deixa-me ainda, amor, debruçar-me em teu rosto,
para ver se te acordo ao menos um instante;
e, ao cingir num abraço o teu corpo já morto,
ver se voltas a ser o meu jovem amante…

Dá-me só mais um beijo, o último de todos
- mas que seja igualmente o beijo mais perfeito!-
para que a tua alma, exilada do corpo,
eu a possa guardar no fundo do meu peito…

Hei-de beber-te assim a vida que te resta,
julgar que inda conservo o que afinal perdi,
enquanto noutro reino, entre sombras funestas,
um implacável deus me separa de ti.

Agora não duvido: esse deus é mais forte,
Pois tudo quanto é belo acaba á sua sombra.
Porque sou imortal? Porque não vem a morte
arrastar-me também para onde te encontras?


Bíon
(Grécia Séc. III a. c.)

Extraido do livro “ Os dias do Amor”




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