domingo, 19 de novembro de 2017




Vai invernar...


Eu hoje amanheci alegre,
querendo cantar...
O vento já chegou nas casuarinas,
e o sapo saiu de debaixo da laje
para um buraco no meio do pátio
onde vai se encher uma lagoa.
- Eh aguão!...
- Olá, José, arreia meu Cabiúna,
liso do casco à testa,
preto do rabo à crina,
que eu vou sair pelo cerrado afora,
a galopar, com a chuva me correndo atrás...
Ela já vem, branquinha, cheirando a água nova,
e a serra está clarinha, neblinando...
A chuva vem rolando, vem chiando,
e o vento assoviando
Galopa, Cabiúna, que a água vem vindo,
e as sementinhas do meloso seco estão dançando...


João Guimarães Rosa

  
 (1908-1967)




Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/

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