Fui onde me trouxe o duro fado
A passar o melhor da minha idade,
Não tenho mais que a bruta sociedade
De algum tosco vilão que tange o gado.
Tudo o mais é deserto inabitado,
Despenhos, precipícios, soledade,
Que só pode oferecer comodidade
Para algum infeliz desesperado.
Aqui sobre uma penha esmorecido
Fico um dia talvez, e em tal segredo,
Que até nem de mim mesmo sou sentido.
E, então, estupefactos mudo, e quedo
Assi’estou de males aturdido;
Qual junto de um penedo, outro penedo.
Abade de Jazente
in Poemas Portugueses Antologia da Poesia Portuguesa do Séc.
XIII ao Séc. XXI; Selecção, organização, introdução e notas Jorge Reis-Sá e Rui
Lage, Porto Editora
Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.