quinta-feira, 20 de julho de 2017



CCXXIV

Ó minha alcova, que já foste um porto
Às tempestades que cruzei diurnas,
Fonte agora de lágrimas noturnas,
Que no dia, por pejo, ocultas porto;

Ó leito, onde encontrei paz e conforto
De tanta mágoa, que dolentes urnas
Sobre ti verte o Amor com mãos ebúrneas,
Só para mim crueza e desconforto!

Porém do meu retiro e do repouso
Não fujo, mas de mim e do pensar,
Que tanta vez segui num devaneio;

E em meio ao vulgo adverso e inamistoso
(Quem diria?) refúgio vou buscar,
Tal é de ficar só o meu receio.
 Francesco Petrarca


(Traduções de Renato Suttana)


Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/

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