CCXXIV
Ó minha alcova, que já foste um porto
Às tempestades que cruzei diurnas,
Fonte agora de lágrimas noturnas,
Que no dia, por pejo, ocultas porto;
Ó leito, onde encontrei paz e conforto
De tanta mágoa, que dolentes urnas
Sobre ti verte o Amor com mãos ebúrneas,
Só para mim crueza e desconforto!
Porém do meu retiro e do repouso
Não fujo, mas de mim e do pensar,
Que tanta vez segui num devaneio;
E em meio ao vulgo adverso e inamistoso
(Quem diria?) refúgio vou buscar,
Tal é de ficar só o meu receio.
Francesco Petrarca
(Traduções de Renato Suttana)
Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.