quarta-feira, 5 de julho de 2023

 

 

 


 

 

 

Amei-te sem Saberes

 

No avesso das palavras

Na contrária face

Da minha solidão

Eu te amei

E  acariciei

O teu imperceptível crescer

Como carne da lua

Nos nocturnos lábios entreabertos

E amei-te sem saberes

Amei-te sem o saber

Amando de te procurar

Amando de te inventar

No contorno do fogo

Desenhei o teu rosto

E para te reconhecer

Mudei de corpo

Troquei de noites

Juntei crepúsculo e alvorada

Para me acostumar

À tua intermitente ausência

Ensinei às timbilas

A espera do silêncio

 

Mia Couto, in 'Raiz de Orvalho'

 

Mia Couto  - escritor e biólogo moçambicano. (1955)

 

 

quinta-feira, 25 de maio de 2023

 

 


 

 

 

Hora Mística

 

Noite caindo ... Céu de fogo e flores.

Voz de Crepúsculo exalando cores,

O céu vai cheio de Deus e de harmonia.

Silêncio ... Eis-me rezando aos fins do dia.

Névoa de luz criando imagens na água,

Nome das águas esculpindo os céus,

Tarde aos relevos húmidos de frágua,

Boca da noite, eis-me rezando a Deus.

Eis-me entoando, a voz de cinza e ouro,

Oh, cores na água vindo às mãos em branco!

Minha ópera de Sol ao último arranco.

E, oh! hora mística em que o olhar abraso,

Sol expirando aos Pórticos do Ocaso!

Dobra em meu peito um oceano em coro.

 

Afonso Duarte, in "Tragédia do Sol-Posto"

 

 

quarta-feira, 24 de maio de 2023

 

 


 Chelìn Sanjuan, 1967

 

 

Chelin Sanjuan Piquero (1967-2012) was born in the city of Zaragoza, Spain.

In 1968, she emigrated with her parents to Chile where she will live for five years.

Later they travel to Venezuela, the country in which she will reside until 1987.

Her artistic vocation began at a very young age.

 

terça-feira, 23 de maio de 2023

 

 

 


 

 

Quem é aquela dama, que dá a mão ao cavalheiro agora?

Ah, ela ensina as luzes a brilhar!

Parece pender da face da noite como um brinco precioso

da orelha de um etíope!

Ela é bela demais para ser amada e pura demais

para esse mundo!

Como uma pomba branca entre corvos,

ela surge no meio das amigas.

Ao final da dança, tentarei tocar sua mão,

para assim purificar a minha.

Meu coração amou até agora?

Não, juram meus olhos.

Até esta noite eu não conhecia a verdadeira beleza.

 

Trecho do livro 'Romeu e Julieta' de William Shakespeare