Ao teu corpo colou-se o vestido de seda
como uma segunda pele entre os seios pequenos
Viceja perene um raminho de cravos
Saul Dias
Paraíso
Deixa ficar comigo a madrugada,
para que a luz do Sol me não constranja.
Numa taça de sombra estilhaçada,
deita sumo de lua e de laranja.
Arranja uma pianola, um disco, um posto,
onde eu ouça o estertor de uma gaivota...
Crepite, em derredor, o mar de Agosto...
E o outro cheiro, o teu, à minha volta!
Depois, podes partir. Só te aconselho
que acendas, para tudo ser perfeito,
à cabeceira a luz do teu joelho,
entre os lençóis o lume do teu peito...
Podes partir. De nada mais preciso
para a minha ilusão do Paraíso.
David Mourão-Ferreira, escritor e poeta português (1927- 1996).
23 de Fevereiro - Dia da Sedução
Abre os olhos com os primeiros raios de luz.
A cadeia de montanhas
Parece uma mulher serena e vigorosa,
Deitada de lado depois de uma noite de amor.
Um vento suave, saciado, agita a aba da tenda.
Que incha e estremece, como um ventre quente. Subindo e Descendo.
Com a ponta da língua aflora o côncavo da mão esquerda,
O ponto mais fundo da palma. é como
O toque de um mamilo, suave e duro.
Amos Oz - Israel 1939