Amei-te sem Saberes
No avesso das palavras
Na contrária face
Da minha solidão
Eu te amei
E acariciei
O teu imperceptível crescer
Como carne da lua
Nos nocturnos lábios entreabertos
E amei-te sem saberes
Amei-te sem o saber
Amando de te procurar
Amando de te inventar
No contorno do fogo
Desenhei o teu rosto
E para te reconhecer
Mudei de corpo
Troquei de noites
Juntei crepúsculo e alvorada
Para me acostumar
À tua intermitente ausência
Ensinei às timbilas
A espera do silêncio
Mia Couto, in 'Raiz de Orvalho'
Mia Couto - escritor e biólogo moçambicano. (1955)