Scott Rohlfs - Artist
sábado, 18 de abril de 2020
sexta-feira, 17 de abril de 2020
Amanhã meu amor,
Amanhã faço poemas com os teus dedos donde nascem flores,
amanhã escrevo-te cartas com os lábios a tremer de frio,
amanhã adormeço desperta no canto mais canto que houver da
tua voz,
Amanhã meu amor,
Verei todas as folhas amarelas que nascem do chão e
regressam aos ramos dos teus braços,
amanhã vou dançar no silêncio proibido que te cala,
amanhã fecho os olhos e finjo que estou acordada
para que me toques as pálpebras com a respiração ofegante de
quem cega,
Amanhã meu amor,
Abro as janelas do peito onde nascem estrelas sem céu,
abro a cama e procuro-te debaixo dela,
dou-te a mão para que me encontres no mapa da pele dorida,
para que me encontres talvez no mesmo sítio de sempre onde
nunca foste,
Amanhã meu amor,
Dedico-te o vento que roça as estátuas já esverdeadas da tua
cidade,
faço-te promessas de palavras que não existem,
desafio-te para um duelo de um só combatente,
deixo-te sozinho comigo encostada aos teus ombros de lava,
Amanhã meu amor,
Vou cantar canções na rádio da frequência 0.00,
vou atirar-te areia com os pés no meio de lugar nenhum,
devolvo-te as minhas ideias que nunca ouviste porque não sei
dizê-las com boca nem mão,
Amanhã meu amor,
Vou gostar de ti como se fosses uma manga doce,
vou ter medo das paredes intactas do teu ser,
vou gritar às raízes das árvores por não as ser,
vou girar à volta do mundo sem sequer o saber,
Amanhã meu amor,
Vou desenhar a lápis de cera como as crianças,
dar-te um desenho de que me vou esquecer,
amadurecer à tua espera, à espera de me ver em ti,
Amanhã meu amor,
Vou fazer malabarismo com o tempo,
desprender-te da liberdade, da minha liberdade,
aconchegar-te à noite sem saberes,
Só porque amanhã meu amor,
Amanhã,
Vou continuar a gostar de Ti.
Raquel Lacerda
1987 (Inédito)
Extraído do livro, Os Dias do Amor
Pag 410
quarta-feira, 15 de abril de 2020
Palavras que disseste e já não dizes,
palavras como um sol que me queimava,
olhos loucos de um vento que soprava
em olhos que eram meus, e mais felizes.
Palavras que disseste e que diziam
segredos que eram lentas madrugadas,
promessas imperfeitas, murmuradas
enquanto os nossos beijos permitiam.
Palavras que dizias, sem sentido,
sem as quereres, mas só porque eram elas
que traziam a calma das estrelas
à noite que assomava ao meu ouvido…
Palavras que não dizes, nem são tuas,
que morreram, que em ti já não existem
- que são minhas, só minhas, pois persistem
na memória que arrasto pelas ruas.
Pedro Tamen
Portugal (Lisboa) 1934
in Tábua das matérias
Editor: Tertulia
Fonte:
cantodaalma.blogspot.com
terça-feira, 14 de abril de 2020
As Mulheres
Houve mulheres serenas,
De olhos claros, infinitas
No seu silêncio,
Como largas planícies
Onde um rio ondeia;
Houve mulheres alumiadas
De ouro, émulas do Estio
E do incêndio,
Semelhantes a searas
Luxuriantes
Que a foice não tocou
Nem o fogo devora,
Sequer o dos astros sob um céu
Os lábios como
Palavras de festa,
E as pálpebras como
Violetas.
Gabriele d'Annunzio, poeta italiano (1863-1938).
quarta-feira, 18 de março de 2020
Pedro Barroso: Calou-se para sempre o artesão das canções
O músico que, mais do que letras, escrevia poemas.
Jardim de Poetas
Falei-te sem querer
De coisas belas
Como quem abre janelas
Para lá do horizonte
E tu sem saber lá tricotares
Um romance de palavras
Sem certezas nem futuros
E tu sonhares no areal
Como um jardim de poetas
Superiores e verticais
Em rigor nunca existiu
E tu como se fosse há vinte anos
Subiste ao alto das rochas
Lá onde pousam as gaivotas
Subiste ao alto das dunas
Onde o vento te possui
Cresceu-te no peito um mar de prata
Como se eu fosse alguma vez isento
Como se eu fosse acaso
Alguma vez na vida a perfeição
Mas quando te contei coisas de mim
Daquelas coisas grandes cá de dentro
Caíste em ti no sonho do jardim
E fiz-te então amiga esta canção
E tu ainda sonhas no areal
Um jardim de poetas
Superiores e verticais
Que em rigor nunca existiu
E tu como se fosse há vinte anos
Sobes ao alto das rochas
Lá onde pousam as gaivotas
Sobes ao alto das dunas
Onde o vento te possui
Cresceu-te no peito um mar de prata
Como se eu fosse alguma vez isento
Como se acaso eu fosse
Alguma vez na vida a perfeição
Mas quando te contei coisas de mim
Aquelas coisas grandes cá de dentro
Caíste em ti do sonho e do jardim
E fiz-te então amiga esta canção
Pedro Barroso
Vivian Gerber Photography
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