terça-feira, 21 de fevereiro de 2017
CERTEZA
Sereno, o parque espera.
Mostra os braços cortados,
E sonha a primavera
Com seus olhos gelados
É um mundo que há-de vir
Naquela fé dormente;
Um sonho que há-de abrir
Em ninhos e semente.
Basta que um novo SoL
Desça do velho céu,
E diga ao rouxinol
Que a vida não morreu.
Diário II
Miguel Torga
segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017
Neste dia de silêncio e ausência
Neste dia de silêncio e ausência
E tão próxima a tua presença,
O horizonte fala-me de ti
A brisa viaja na minha pele
E as andorinhas
-que construiram ninhos antes da viagem
Prometeram voltar
Para burilar os claustros da saudade
As andorinhas nunca esquecem
A casa inde nasceram...
Fazem voos na promessa do teu sorriso
-como se a vida dependesse de ti
Neste dia de silêncio e ausência
É tão o medo de amar,
O final do prazer é misterioso
A viagem são corpos
com asas...
E as andorinhas
-que parecem ter antes de entrar
Corajosas prometeram voltar.
de Pj.Conde-Paulino
20/10/2014
Foto: Pinterest.com
Tu que tens os aromas e as cores
Da beleza que invade meu querer
Adornada em paisagens de amores
Adentrando o oasis do meu ser.
O teu corpo se revela como é
No desejo ardente e flamejante
Que exala teu perfume de mulher
E nos leva ao delírio dos amantes.
Entre toques de mãos em peles nuas
Minha boca está sedenta pela tua,
Misturando assim nossas vontades
No bailado dos corpos, a implosão,
E depois que se acalma o coração,
Repousamos na paz que nos invade.
José Bento
Foto e poema:pesquisa google
domingo, 19 de fevereiro de 2017
Onde Estás?
É meia-noite... e rugindo
Passa triste a ventania,
Como um verbo de desgraça,
Como um grito de agonia.
E eu digo ao vento, que passa
Por meus cabelos fugaz:
"Vento frio do deserto,
Onde ela está? Longe ou perto?"
Mas, como um hálito incerto,
Responde-me o eco ao longe:
"Oh! minh'amante, onde estás?. . .
Vem! É tarde! Por que tardas?
São horas de brando sono,
Vem reclinar-te em meu peito
Com teu lânguido abandono! ...
'Stá vazio nosso leito...
'Stá vazio o mundo inteiro;
E tu não queres qu'eu fique
Solitário nesta vida...
Mas por que tardas, querida?...
Já tenho esperado assaz...
Vem depressa, que eu deliro
Oh! minh'amante, onde estás? ...
Estrela — na tempestade,
Rosa — nos ermos da vida;
lris — do náufrago errante,
Ilusão — d'alma descrida!
Tu foste, mulher formosa!
Tu foste, ó filha do céu! ...
... E hoje que o meu passado
Para sempre morto jaz...
Vendo finda a minha sorte,
Pergunto aos ventos do Norte...
"Oh! minh'amante, onde estás?..."
Castro Alves
Fonte: https://www.luso-poemas.net/
Foto: Pinterest.com
sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017
Motivo
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.
Cecila Meireles
Foto:https://pt.pinterest.com/cinafraga/
quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017
Na Mão de Deus
Na mão de Deus, na sua mão direita,
Descansou afinal meu coração.
Do palácio encantado da Ilusão
Desci a passo e passo a escada estreita.
Como as flores mortais, com que se enfeita
A ignorância infantil, despojo vão,
Depois do Ideal e da Paixão
A forma transitória e imperfeita.
Como criança, em lôbrega jornada,
Que a mãe leva ao colo agasalhada
E atravessa, sorrindo vagamente,
Selvas, mares, areias do deserto...
Dorme o teu sono, coração liberto,
Dorme na mão de Deus eternamente!
Antero de Quental, in "Sonetos"
Fonte: http://www.citador.pt/
Foto: https://pt.pinterest.com/cinafraga/
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