quarta-feira, 20 de abril de 2022








Se eu morrer de manhã

Abre a janela devagar

E olha com rigor o dia que não tenho

Não me lamentes. Eu não me entristeço:

Ter tido a noite é mais do que mereço

Se nem conheço a noite de que venho.

Deixa entrar pela casa um pouco de ar

E um pedaço de céu

O único que sei.

Talvez um pássaro me estenda a asa

Que não saber voar

Foi sempre a minha lei.

Não busques o meu hálito no espelho.

Não chames o meu nome que não tenho

E do mistério nada te direi.

Diz que não estou se alguém bater à porta.

Deixa que eu faça o meu papel de morta

Pois não estar é da morte quanto sei.

 

 

Rosa Lobato de Faria

 

 

 

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