À noite.
A música tocava no quintal
Com aquela impronunciável agonia.
Frescas, cheiravam forte a maresia,
As ostras sobre o gelo vesperal.
Ele disse: “Sou só um amigo fiel.”
E então tocou-me as dobras do vestido.
Quão longe de um abraço tinha sido
O toque dessas mãos assim ao léu.
Assim olham-se os pássaros ou gatos,
Assim veem-se as esbeltas amazonas…
O riso de seus olhos vinha à tona,
Sob o ouro de suas pálpebras pacato.
E dos violinos tristes vem a voz
Cantando pela névoa que se adensa:
Dá graças aos céus pela recompensa
Finalmente com o amado estás a sós.
Anna Akhmátova, poetisa russa (1889-1966)
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