Cheguei tarde, e os
que sabiam de mim
Notaram que o meu corpo já náo me
Pertencia. E perguntaram. Porque ardia
A tua boca nos meus lábios mais do que
A fogueira do segredo, respondi-lhes
Que o céu, afinal , era mesmo azul, e o
Verão uma estação maior que o tempo,
E o tempo nada se o teu corpo estava
Junto desse corpo que todos ja sabiam
Que não vinha comigo- e que Deus,
Deus fechava os olhos e existia. Riram
Os que te tinham conhecido noutra noite
Com outra pele vestida; os outros foram
Para muito mais longe que o seu rosto
Magoado dizer ao próprio ouvido que eu
Mentia. Mas os que ainda queriam saber
De mim pediram-me que lhes contasse
Quem eras, o teu nome. E eu mordi essa
Boca vermelha que deixara contigo para
Não ter de dizer que nem o perguntara.”
Maria do Rosário Pedreira
Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/
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