Junto ao mar
Junto ao mar, nesta baía suave de azul cobalto,
deixo-me envolver nos confins do pensamento,
o recorte do céu, a
expressão mais nua do chão
e contemplo a
narrativa das areias desta praia,
a voz antiga que
desfez a pedra dos montes
no tumulto das
grandes impiedosas chuvas.
O meu arrebatamento é
a história que leio
nos veios engendrados
pelo refluxo da maré,
as algas deixadas
junto ao limite das águas
a própria índole
maiúscula dos grãos de areia
que jazem ao sabor da
vastidão dos abismos
traçados nos penhasco
descidos da montanha.
Ela ensina-me a
sedução pela espuma rigorosa
das vagas vindas de
longe, trazidas no vento,
as correntes
telúricas das montanhas do mar
e mostra-me o decurso
inteiro e obstinado
que vejo nas conchas
despojadas de moluscos,
nas algas que
sucumbiram à força do tempo.
Aqui me atenho e
entendo este abraço fraternal
das águas ajuntado os
restos terminais da terra
antes do grande
dilúvio da paz do sol poente
e ergo a minha voz e
canto os espaços libertos
na voz multifacetada
das águas do grande mar,
o azul pálido da
vastidão pluricolor dos céus.
Vieira Calado
Foto: Katherine Alana LaPrell
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.