De Noite
Quando me deito ao pé da minha dor,
Minha Noiva-phantasma; e em derredor
Do meu leito, a penumbra se condensa,
E já não vejo mais que a noite imensa,
Ante os meus olhos intimos, acesos,
Extaticos, surpresos,
Aparece-me o Reino Espiritual...
E ali, despido o habito carnal,
Tu brincas e passeias; não comigo,
Mas com a minha dor... o amor antigo.
A minha dor está comtigo ali,
Como, outrora, eu estava ao pé de ti...
Se fosse a minha dor, com que alegria,
De novo, a tua face beijaria!
Mas eu não sou a dor, a dor etérea...
Sou a Carne que soffre; esta miseria
Que no silencio clama!
A Sombra, o Corpo doloroso, o Drama...
Teixeira de Pascoaes, in 'Elegias'
Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/
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