Luar de Paquetá
Nessas noites dolorosas
Quando o mar, desfeiro em rosas,
Se desfolha à lua cheia
Lembra a ilha um ninho oculto
Onde o amor celebra em culto
Todo o encanto que o rodeia
Nos canteiros ondulantes,
As nereidas incessantes
Abrem lírios ao luar
A água em prece borborinha
E em redor da Capelinha
Vai rezando o verbo amar.
Jardim de afetos
Pombal de amores
Humildes tetos
De pescadores...
Se a lua brilha
Que bem nos dá
Amar na Ilha
De Paquetá!
Pensamento de quem ama,
Hóstia azul, fervendo em chama
Entre lábios separados...
Pensamento de quem ama
Leva o meu radiograma
Ao jardim dos namorados.
Onde é esse paraíso,
O caminho que idealizo
Na ascensão para esse altar,
Paquetá é um céu profundo
Que começa neste mundo
Mas não sabe onde acabar...
Sobre o mar de azul rendado,
Que é toalha de uma noivado,
Surge a Ilha — taça erguida.
E o luar — vinho doirado
Enche a taça do Passado
Que embriaga a nossa vida!
Ai, que filtro milagroso,
Para a mágua e para o gozo
Para a eterna inspiração!
O luar, na mocidade,
Abre as rosas da saudade
Dentro em nosso coração.
Hermes Fontes 1888/1930
Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/
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