quarta-feira, 20 de dezembro de 2017







Água em chamas

… E ele parecia um deus ao sair do banho.

Um banho te darei como as servas de Circe o deram a Ulisses,
como essas filhas dos bosques e das fontes
e dos rios sagrados que desaguam no mar,
encho a banheira de água e sirvo-te vinho.

Misturo num jacto de água quente com outra que arrefece,
enquanto os espelhos se embaciam e o silêncio vem de mansinho;
um longo banho terás, o vinho iluminarão teu sangue,
descontrairá os músculos que eu banho com um jarro de água.

Tal como a quarta serva afastou a fadiga dos membros de Ulisses,
Continuarei a dar-te banho, para que o mundo seja do tamanho deste quarto,
onde os suaves vapores se adensam cada vez mais e as fragrâncias do teu corpo
se expandem no quarto à medida que o calor te inunda tanto por fora como por dentro.

Aproximo-me, lavo o teu pescoço e o teu peito,
acaricio o teu rosto, a tua nuca e os teus ombros,
reparo no prazer que avança à medida que depões as tuas armas,
vejo que deixas relaxar os teus ombros e mergulhas no banho.

Tem de haver água para haver vida,
e os homens precisam de banhos demorados...
ensaboo-te e enxaguo-te de novo, o teu corpo torna-se pesado,
não és só um homem mas todos os homens.

E quando te levantas do banho para emergir
és tão encantador como Telémaco
que foi banhado pela adorável donzela Policasta,
antes de ser ungido com óleo cintilante e coberto com túnica e manto.

De quem é o amor que brilha através do mundo como um rio que corre,
e porque flui tão puro como a alma
que vem em direcção a mim, tão deferente de tudo o que conheci
no labirinto do palácio onde vagueei sozinha durante tanto tempo.

Pia Tafdrup



Foto: https://www.pinterest.pt/cinafraga/

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