Não mais me vou deitar no feno perfumado ou deslizar na neve
deserta.
Onde eu exatamente me encontro?
O que me surpreende é a impressão de não ter envelhecido,
embora eu esteja instalada na velhice.
O tempo é irrealizável.
Provisoriamente o tempo parou para mim.
Provisoriamente.
Mas eu não ignoro as ameaças que o futuro encerra, como
também não ignoro que é o meu passado que define a minha abertura para o
futuro.
O meu passado é a referência que me projeta e que eu devo
ultrapassar.
Portanto, ao meu passado, eu devo o meu saber e a minha
ignorância, as minha necessidades, as minhas relações, a minha cultura e o meu
corpo.
Hoje, que espaço o meu passado deixa para a minha liberdade
hoje? Não sou escrava dele.
O que eu sempre quis foi comunicar unicamente da maneira
mais direta o sabor da minha vida. Unicamente o sabor da minha vida.
Acredito que eu consegui fazê-lo.
Vivi num mundo de homens, guardando em mim o melhor da minha
feminilidade.
Não desejei e nem desejo nada mais do que viver sem tempos
mortos.
Simone de Beauvoir
Foto: Sophia Loren, (nasceu a 20 de Setembro de 1934
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