terça-feira, 4 de julho de 2017





I
Desta amarga existência em certo, amargo dia,
À hora da meia noite, augural e profana,
Eu, de velha doutrina, as páginas relia,
Curvo ao peso do sono e da fadiga insana.
Mal do meu pensamento a direção seguia
Por essa hora de horror em que da treva emana
Toda em funda hediondez, desoladora e fria,
Da atra recordação, a atra saudade humana.
Foi assim que senti, do meu triste aposento,
Como um leve sussurro a passar, lento e lento,
E uma leve pancada a bater nos umbrais.
Disse comigo: é alguém que pela noite fora,
Vem, retarda visita, e retarda-se agora...
A bater mansamente à porta, nada mais!...


Emílio de Meneses


Fot: https://www.pinterest.pt/cinafraga/

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