sábado, 20 de maio de 2017





Inventar a pele

Então era outra vez. A mão na maçaneta
que faz girar o tempo. Éramos invisíveis
no meio da gente. Tudo era secreto, cúmplice
de nós subindo devagar. Saborear a elevação
do corpo, o ruído da madeira, a porta à espera
e o depois da porta. O outono vem depressa.
Guardar o verão, restos de sol no cimo
do escadote. Foi feliz o vestido estampado.
Havia um vento leve, a tua pele tocava a minha,
o mar passava pelos pés e ia. Sentir o teu corpo
como não ter vestido. Desço as camisolas,
a tua mão interior a inventar a pele.
Ela está ao sol com um colar que desce até ao peito.
Direita como se não doesse o tempo. Ela estará

depois de nós, e envelheceremos nas contas do colar.


Rosa Alice Branco 


Foto:https://www.pinterest.pt/cinafraga/

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